PONTO DE PARTIDA
De Sérgio Ricardo
Não tenho para a
cabeça
Somente o verso
brejeiro
Rimo no chão da
senzala
Quilombo com
cativeiro, olerê
Não tenho para o
coração
Somente o ar da
montanha
Tenho a planície
espinheira
Com mão de sangue,
façanha, olerê, olará
Não tenho para o
ouvido
Somente o rumor do
vento
Tenho gemidos e preces
Rompantes e
contratempo, olerê, olará, olerê, lará
Tenho pra minha vida
A busca como medida
O encontro como
chegada
E como ponto de
partida
Não tenho para o meu
olho
Apenas o sol nascente
Tenho a mim mesmo no
espelho
Dos olhos de toda
gente, olerê
Não tenho para o meu
nariz
Somente incenso ou
aroma
Tenho este mundo
matadouro
De peixe, boi, ave,
homem, olerê, olará
Não tenho pra minha
boca
Sagrados pães tão
somente
Tenho vogal, consoante
Uma palavra entre
dente, olerê, olará, olerê, lará
Tenho pra minha vida
A busca como medida
O encontro como
chegada
E como ponto de
partida
Não tenho para o meu
braço
Apenas o corpo amado
E assim sendo o
descruzo na rédea
No remo e no fardo,
olerê
Não tenho para a minha
a mão
Somente acenos e
palmas
Tenho gatilhos e
tambores
Teclados, cordas e
calos, olerê, olará
Não tenho para o meu
pé
Somente o rumo traçado
Tenho improviso no
passo
E caminho pra todo
lado, olerê, olará, olerê, lará
Tenho pra minha vida
A busca como medida
O encontro como
chegada
E como ponto de
partida.
Adoro essa música, adorei a peça de Guarinieri, assistida pelo então rapazola no teatro municipal de São Paulo, literalmente cercado por tanques do exército.
Que tempos. (OS)
Adoro essa música, adorei a peça de Guarinieri, assistida pelo então rapazola no teatro municipal de São Paulo, literalmente cercado por tanques do exército.
Que tempos. (OS)
Ponto de Partida (1976), de Gianfrancesco Guarnieri. Direção de Fernando Peixoto.
Com Gianfrancesco Guarnieri, Martha Overbeck, Othon Bastos, Sérgio Ricardo e
Sônia Loureiro.
Estreou em setembro de 1976, no Teatro de Arte Israelita Brasileiro.
Na peça, Guarnieri volta à alegoria, depois de Um Grito Parado no Ar. Numa
hipotética aldeia medieval, um poeta e humanista amanhece morto,
misteriosamente enforcado na praça. Na peça, a hipocrisia prevalece, garantindo
a impunidade dos assassinos. Tratava-se de uma parábola criada com o intuito de
aludir à morte do jornalista Vladimir Herzog, no ano anterior. O espetáculo tem
música de Sérgio Ricardo. Guarnieri arrebata os prêmios Molière, Governador do
Estado, Mambembe e APCA de melhor texto.
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