sábado, 27 de fevereiro de 2016

COISAS DA VIDA


O RELÓGIO

(Por Violante Pimentel) Joaquim foi convidado para o jantar de confraternização da sua turma do Curso de Direito. Era a comemoração dos quarenta anos de formatura.  Sua esposa, Bernadete, alegou sentir-se indisposta e preferiu ficar em casa. Mostrou-se muito manhosa, na esperança de que o marido desistisse de ir. Mas não foi feliz no intento, pois Joaquim foi sozinho. Prometeu-lhe que estaria de volta antes da meia-noite e que não se excederia na bebida.

Foi uma noite linda, cheia de emoções, e todos os participantes estavam visivelmente felizes com aquela festa. Apesar de pairar no ar certa tristeza, pelo fato de cinco colegas já terem se encantado, todos pareciam reviver o tempo da juventude.
Comeram à vontade, beberam bastante, e conversaram pelos cotovelos. Joaquim se esqueceu do tempo. Recebeu muitos galanteios de algumas colegas de turma, que estavam viúvas ou separadas, e sentiu-se como um pássaro livre da gaiola, onde vivia há quarenta anos. Era gratificante a sensação de liberdade que estava sentindo, longe do olhar castrador da esposa, que era extremamente ciumenta. Se ela estivesse ali, com certeza lhe havia colocado um “silencioso” na boca, e ele não teria conversado tão descontraído com ninguém, principalmente com a ala feminina. Também não teria demorado quase nada, pois ela o teria chamado logo para voltar para casa.

Quando alguns colegas começaram a se despedir, Joaquim lembrou-se de que prometera à esposa que voltaria para casa antes da meia-noite. Pensou logo na bronca que iria levar. Mas, empolgado com as boas conversas, demorou um pouco mais.

A emoção tomava conta de todos, mas as melodias executadas por um excelente conjunto musical serviam para descontrair o ambiente. Era uma verdadeira festa de confraternização. A turma havia se conhecido em plena juventude, e hoje todos os colegas já estavam bem mais vividos, “dobrando o cabo da boa esperança”.

As horas passaram rapidamente, o uísque era o dono da noite, e Joaquim foi ficando embriagado. Por volta das três horas da manhã, após beber muito mais do que a esposa esperava, Joaquim chegou em casa.

Mal entrou e fechou a porta, o relógio cuco da sala de jantar disparou e cantou três vezes: CU – CO…CU…CO…CU…CO….

Rapidamente, percebendo que a mulher podia acordar, Joaquim, embriagado, imitou dezenas de vezes o relógio, cantando alto:   CU…CO….CU …CO…CU…CO…

De repente, tropeçou, fez barulho à vontade, sempre gritando “CU…CO…CU…CO…
Achando que sua ideia de imitar o cuco fora genial, Joaquim continuou falando besteira, acreditando que sua mulher estava dormindo profundamente.

Violante Pimentel é procuradora 
aposentada do Rio Grande do Norte

Na manhã seguinte, a esposa perguntou-lhe a que horas havia chegado. Respondeu que havia chegado antes da meia noite, e ela não esboçou qualquer reação. Joaquim sentiu-se aliviado!

Depois de ficar, por alguns minutos, pensativa, a mulher, com muita ironia, falou para o marido:

– Querido, precisamos, com urgência, de um relógio cuco novo…
Joaquim perguntou:

– Por quê?

A mulher respondeu:

– Porque o nosso relógio cuco está quebrado!!! Eu quero um relógio novo e bem melhor do que esse.  De ontem pra hoje, às três horas da manhã, eu escutei ele cantar três vezes: CU…CO; CU…CO; CU…CO. Na mesma hora, repetiu umas cinquenta vezes “CU…CO”; Parou de falar “CU…CO” e começou a resmungar: Tou fodido!!!  Isso é uma porra!!! Velha azarenta!!! PQP!!!  Arrotou, tossiu, deu uma gargalhada e repetiu CU…CO… Depois, fez uma zoada, como se alguém houvesse batido com a cabeça na porta do corredor, que estava entreaberta. Falou novamente: “CU…CO…CU…CO, PQP!!!” Não sei como, o gato gritou como se tivesse levado uma pisada, e o relógio cuco ainda falou: Merda!!! Velha Azarenta!!! Vá pra PQP!!!

– Acho que sonhei que você só tinha se deitado, depois de cair duas vezes, enquanto se despia.

– Vamos já comprar outro relógio!!!



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