O RELÓGIO
(Por
Violante Pimentel) Joaquim
foi convidado para o jantar de confraternização da sua turma do Curso de
Direito. Era a comemoração dos quarenta anos de formatura. Sua esposa, Bernadete, alegou sentir-se
indisposta e preferiu ficar em casa. Mostrou-se muito manhosa, na esperança de
que o marido desistisse de ir. Mas não foi feliz no intento, pois Joaquim foi
sozinho. Prometeu-lhe que estaria de volta antes da meia-noite e que não se
excederia na bebida.
Foi uma noite linda, cheia de emoções,
e todos os participantes estavam visivelmente felizes com aquela festa. Apesar
de pairar no ar certa tristeza, pelo fato de cinco colegas já terem se
encantado, todos pareciam reviver o tempo da juventude.
Comeram à vontade, beberam bastante, e
conversaram pelos cotovelos. Joaquim se esqueceu do tempo. Recebeu muitos
galanteios de algumas colegas de turma, que estavam viúvas ou separadas, e
sentiu-se como um pássaro livre da gaiola, onde vivia há quarenta anos. Era
gratificante a sensação de liberdade que estava sentindo, longe do olhar castrador
da esposa, que era extremamente ciumenta. Se ela estivesse ali, com certeza lhe
havia colocado um “silencioso” na boca, e ele não teria conversado tão
descontraído com ninguém, principalmente com a ala feminina. Também não teria
demorado quase nada, pois ela o teria chamado logo para voltar para casa.
Quando alguns colegas começaram a se
despedir, Joaquim lembrou-se de que prometera à esposa que voltaria para casa
antes da meia-noite. Pensou logo na bronca que iria levar. Mas, empolgado com
as boas conversas, demorou um pouco mais.
A emoção tomava conta de todos, mas as
melodias executadas por um excelente conjunto musical serviam para descontrair
o ambiente. Era uma verdadeira festa de confraternização. A turma havia se
conhecido em plena juventude, e hoje todos os colegas já estavam bem mais
vividos, “dobrando o cabo da boa esperança”.
As horas passaram rapidamente, o uísque
era o dono da noite, e Joaquim foi ficando embriagado. Por volta das três horas
da manhã, após beber muito mais do que a esposa esperava, Joaquim chegou em
casa.
Mal entrou e fechou a porta, o relógio
cuco da sala de jantar disparou e cantou três vezes: CU – CO…CU…CO…CU…CO….
Rapidamente, percebendo que a mulher
podia acordar, Joaquim, embriagado, imitou dezenas de vezes o relógio, cantando
alto: CU…CO….CU …CO…CU…CO…
De repente, tropeçou, fez barulho à
vontade, sempre gritando “CU…CO…CU…CO…
Achando que sua ideia de imitar o cuco
fora genial, Joaquim continuou falando besteira, acreditando que sua mulher
estava dormindo profundamente.
Violante Pimentel é procuradora
aposentada do Rio Grande do Norte
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Na manhã seguinte, a esposa
perguntou-lhe a que horas havia chegado. Respondeu que havia chegado antes da
meia noite, e ela não esboçou qualquer reação. Joaquim sentiu-se aliviado!
Depois de ficar, por alguns minutos,
pensativa, a mulher, com muita ironia, falou para o marido:
– Querido, precisamos, com urgência,
de um relógio cuco novo…
Joaquim perguntou:
– Por quê?
A mulher respondeu:
– Porque o nosso relógio cuco está
quebrado!!! Eu quero um relógio novo e bem melhor do que esse. De ontem pra hoje, às três horas da manhã, eu
escutei ele cantar três vezes: CU…CO; CU…CO; CU…CO. Na mesma hora, repetiu umas
cinquenta vezes “CU…CO”; Parou de falar “CU…CO” e começou a resmungar: Tou
fodido!!! Isso é uma porra!!! Velha
azarenta!!! PQP!!! Arrotou, tossiu, deu
uma gargalhada e repetiu CU…CO… Depois, fez uma zoada, como se alguém houvesse
batido com a cabeça na porta do corredor, que estava entreaberta. Falou
novamente: “CU…CO…CU…CO, PQP!!!” Não sei como, o gato gritou como se tivesse
levado uma pisada, e o relógio cuco ainda falou: Merda!!! Velha Azarenta!!! Vá
pra PQP!!!
– Acho que sonhei que você só tinha se
deitado, depois de cair duas vezes, enquanto se despia.
– Vamos já comprar outro relógio!!!
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