Márcio Celli - Entrevista Exclusiva
Em seu terceiro projeto fonográfico intitulado "Da minha janela",
Márcio Celli extravasa o seu lado autoral
abarcando os mais distintos gêneros musicais brasileiros
Márcio Celli extravasa o seu lado autoral
abarcando os mais distintos gêneros musicais brasileiros
Depois de dois excelentes projetos fonográficos, Márcio Celli atualmente vem divulgando o seu mais recente álbum, cujo título faz uma alusão ao seu universo particular. Composto por doze canções, álbum "Da minha janela" traz entre parcerias e composições de sua lavra sambas, ijexás, bossas dentre outras sonoridades que formam este singular amálgama sonoro que apresenta-se com características que sobrepuja o convencional o credenciando à conquista de um merecido espaço dentro do cenário musical brasileiro com o devido merecimento como pudemos conferir aqui ao longo do último mês através da pauta "UMA JANELA DE VISÃO AMPLA E IRRESTRITA". Hoje o cantor e compositor volta ao nosso espaço para este bate-papo exclusivo para falar um pouco sobre sua carreira fonográfica, projetos a ser concretizados ao longo de 2015, suas reminiscências musicais, a sua relação com a cantora e compositoraRosa Passos entre outros temas. Excelente leitura!
Você poderia falar um pouquinho de suas reminiscências? Qual a lembrança mais remota do seu envolvimento com a música?
MC - Minha família sempre gostou muito de música e meu irmão, Luciano Celli, garimpava o que havia de melhor na MPB. Por isso posso dizer que a lembrança mais remota do meu envolvimento com a música é a de escutar tudo que o meu irmão ouvia. Tive algumas tentativas frustradas de formar bandas na adolescência e também de estudar violão. Cantava em festividades escolares, em grupos de jovens da Igreja Católica, etc. Nunca tive dúvidas de que queria ser cantor e algumas coisas fiz bem cedo. Aos 14 anos de idade iniciei os estudos de técnica vocal com a mestra Déa Mancuso. Com 16, fiz a carteira da OMB (Ordem dos Músicos do Brasil). Com 18 gravei a primeira canção e já estava no palco.
Em alguns aspectos pode-se dizer que a música gaúcha acaba-se por tornar-se notória por apresentar uma sonoridade bastante peculiar, pautada no nativismo e no tradicionalismo platino e você chega com uma música que acaba por quebrar alguns preceitos sobre essas características a partir de bossas, sambas e ijexás presentes no álbum. Essa escolha é proposital?
MC - Não é uma escolha, é a minha essência. Nunca fiz parte do tradicionalismo gaúcho. A música nativista tem o seu belo e suas peculiaridades, é verdade, mas desconheço até o vocabulário. Sou nascido e criado em Porto Alegre, sempre fui urbano e minha ligação com a música tradicional se dava, no máximo, em visitas a Santana do Livramento, cidade do interior do Estado do Rio Grande do Sul, fronteira com o Uruguai, onde passava as férias escolares na casa de minha avó materna. Sou gaúcho, mas acima de tudo Brasileiro, assim como a minha música.
“Um novo tom”, seu primeiro disco, já traz características que pautam a sua carreira até os dias atuais: a qualidade na escolha do repertório e a questão do não vinculo a gravadora alguma. Você acredita que no mercado fonográfico atual essa dualidade presente em seu primeiro projeto encontra-se ainda mais evidente?
MC - Somos dependentes de muitas coisas mesmo estando fora de uma gravadora. Meu segundo álbum, “Márcio Celli canta Adriana Calcanhotto” saiu através de uma, mas tive liberdade para fazer o disco da maneira que eu queria, assim como o terceiro e mais recente “Da Minha Janela”, que teve o financiamento do FUMPROARTE através da Secretaria Municipal da Cultura / Prefeitura de Porto Alegre. Tudo mudou muito até aqui e mudará cada vez mais. Ainda estamos garimpando novos caminhos, novas possibilidades para este “ser independente”. Fazer parte da estrutura que uma gravadora pode proporcionar é sempre bem-vindo para uma boa divulgação do trabalho. Mas isso tudo só vale a pena se existir liberdade artística e esta liberdade ainda é o prós maior de ser um artista independente.
Em “Márcio Celli canta Adriana Calcanhotto”, você trouxe duas canções inéditas da lavra da artista. Como se deu a ideia deste projeto?
MC - O projeto saiu dos palcos para o CD homônimo. O show rolou por mais de três anos antes de virar disco e teve Direção Cênica de Morgada Cunha, bailarina, coreógrafa , conhecedora íntima da obra de sua filha Adriana e uma das maiores incentivadoras para que este projeto fosse gravado. Eu e Adriana nos conhecemos há muito tempo, fizemos aulas de canto com a mesma professora. Na época eu ainda era adolescente e queria gravar a primeira música para mandar para as rádios locais. Adriana, residindo em Porto Alegre e ainda não conhecida do grande público, me mostrou várias de suas canções. Apaixonei-me imediatamente por todas e escolhi “Enguiço”, que veio a ser título do primeiro disco gravado por ela dois anos depois. Fui o primeiro cantor a gravar Adriana Calcanhotto. Tenho muita coisa inédita daquela época. Até hoje quando vou cantar alguma dessas canções, preciso avisá-la imediatamente, pois algumas, ela nem lembra que fez (risos). Com o samba “Viu?” foi exatamente assim e “Tardes” foi indicação da própria Adriana.
Conte-nos um pouco acerca da recepção da Adriana em relação a esta homenagem.
MC - Não é exatamente um disco de homenagem, a Adriana nem gosta desse tipo de coisa. É um disco de um interprete gaúcho cantando uma compositora gaúcha e que em minha opinião é uma das maiores compositoras brasileiras. Ela já tinha conhecimento do projeto desde o show e gostou do resultado do disco também, inclusive assinou a contracapa.
No álbum Da Minha Janela é possível ver que há os mais distintos parceiros nas diversas faixas existentes. Como se dá o seu processo de composição em parceria?
MC - Normalmente faço o poema. Ele vem inteiro e intuitivamente com o endereço certo do parceiro. Claro que sempre penso em colegas com quem me identifico musicalmente e creio que esta energia seja fundamental para que a canção nasça. Por vezes, parceiros me mandam a melodia e eu faço o poema, criando assim o processo inverso ao qual estou acostumado.
E solo? Existe algum rito ou metodologia a seguir na hora de compor?
MC - Quando faço letra e música costumo dizer que é total ligação com o espiritual, principalmente por eu não tocar um instrumento e a canção chegar pronta. Gravo imediatamente no celular para não esquecer. Acho ótimas todas às formas de composição que tem acontecido comigo e só posso garantir que a inspiração vem de “lá” para cá. Por isso agradeço sempre aos Deuses da música.
Você vinha de projetos que apesar de pinceladas autorais geralmente atuava também como intérprete de outros compositores, agora neste álbum você vem com a sua música e ideias de modo pleno. Por que só agora dar vazão total ao lado autoral?
MC - Passei por um processo de maturação. Ser intérprete dos melhores compositores da música brasileira nos torna, no mínimo, exigentes e até que nos coloquemos no mesmo setlist do show, leva algum tempo. Mas eu amo interpretar e costumo dizer que o intérprete veio primeiro e que ele é primordial para o compositor.
Rosa Passos hoje não cansa de elogiar o seu trabalho e considera-se (como já tornou público em uma de suas apresentações) sua madrinha artística. Como se deu a sua aproximação com a cantora baiana?
MC - Rosinha foi um dos melhores presentes que a vida me deu. Sou fã incondicional do seu trabalho e tento seguir seus “Passos” a risca. Tive contato com Rosa através do radialista Robson Ribeiro, que assim como ela, reside em Brasília - DF. Desde então esta “Madrinha” amada e dona de uma generosidade sem tamanho, não só assinou a contracapa do meu mais recente trabalho, “Da Minha Janela”, como divulgou o CD em Rádios Europeias e, como se não bastasse, me elegeu seu “Afilhado” musical. Eu amo Rosa Passos.
O que podemos esperar do Márcio neste ano de 2015?
MC - Continuo divulgando o CD “Da Minha Janela” com novas canções autorais inseridas no roteiro. Tenho algumas apresentações aqui em Porto Alegre, uma delas o show “De Bossa em Samba”, projeto que tenho ao lado de um dos meus mais assíduos parceiros de composição, Roberto Haag. No final de maio estarei em São Paulo para algumas apresentações em alguns SESCs e outros projetos. Minha produtora (Ge Zaffani – Solo Cultural) reside em São Paulo, assim como os músicos Marcos Davi e Cau Karan , violonistas, amigos especiais que me acompanham sempre nessas temporadas, o que facilita muito o meu acesso ao centro do País. Fui convidado pelo carioca Reginaldo Mil para participar do CD “Pelo Verde Contra o Câncer”. Um lindo projeto eco beneficente, coordenado pelo Grupo Música Verde. 15 músicas cantadas e tocadas por importantes artistas da MPB farão parte deste trabalho. (Jane Duboc, Vânia Bastos, Roberto Menescal, Lucinha Lins, Victor Biglione, Zé Canuto, Toninho Ferragutti, Marcos Davi, etc.) Gravei a canção chamada “Grandheza”, que estará no CD. Quero muito poder mostrar o meu trabalho nas mais diferentes cidades. Levar a música brasileira para ouvidos atentos e abertos ao novo. Este ano terei a honra de dividir o palco com Rosa Passos, em São Paulo, a data ainda será divulgada.
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