terça-feira, 9 de setembro de 2014

TOUREIRO ESPANHOL


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As meninas não olhavam pra ele, nunca. Quando olhavam, se não riam, davam de ombro. E naquele tempo distante que só, não havia o politicamente correto. Mas gordo já era gordo – e se ferrava. (Tinha um problema adicional, que ignorava, era míope, mas isso fica pra depois.) Só achava bermuda cor marrom. Ou cinza. De elástico.

Um dia, por conta e risco, contra a vontade dos pais, resolveu emagrecer. Emagreceu. Muito. Não fez nada demais, fez o óbvio: cortou a comida, duas horas de ginástica por dia no quarto do apartamento. Sem aparelhos. Naquela época ninguém sabia o que era coisa dessas. Entre os pobres, ao menos.

Ficou demais de gostoso, segundo a menina mais bonita, coisa mais linda da classe. Palavras dela: “Cintura de toureiro espanhol”. Ereções, masturbações, vida que segue. Jamais comeu a menina mais bonita da classe.

Um dia a mãe (gorda) resolveu intervir: mandou o pai levar o ex-gordo no médico. O menino tinha que engordar de novo, “raquítico assim ninguém prospera”. O pai o levou.

Não se sabe o que o médico da família receitou ao menino. O menino pulou fora. E cresceu, ficou magro por bom tempo, casou, teve filhos, envelheceu.

Está gordo demais.

Aquela menina mais bonita da classe, se o visse (estará viva?), lhe diria:

-- Que merda! O toureiro foi-se: você está mais gordo que o touro.



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