As meninas não olhavam
pra ele, nunca. Quando olhavam, se não riam, davam de ombro. E naquele tempo
distante que só, não havia o politicamente correto. Mas gordo já era gordo – e
se ferrava. (Tinha um problema adicional, que ignorava, era míope, mas isso
fica pra depois.) Só achava bermuda cor marrom. Ou cinza. De elástico.
Um dia, por conta e
risco, contra a vontade dos pais, resolveu emagrecer. Emagreceu. Muito. Não fez
nada demais, fez o óbvio: cortou a comida, duas horas de ginástica por dia no quarto
do apartamento. Sem aparelhos. Naquela época ninguém sabia o que era coisa
dessas. Entre os pobres, ao menos.
Ficou demais de gostoso,
segundo a menina mais bonita, coisa mais linda da classe. Palavras dela: “Cintura
de toureiro espanhol”. Ereções, masturbações, vida que segue. Jamais comeu a
menina mais bonita da classe.
Um dia a mãe (gorda) resolveu
intervir: mandou o pai levar o ex-gordo no médico. O menino tinha que engordar
de novo, “raquítico assim ninguém prospera”. O pai o levou.
Não se sabe o que o
médico da família receitou ao menino. O menino pulou fora. E cresceu, ficou
magro por bom tempo, casou, teve filhos, envelheceu.
Está gordo demais.
Aquela menina mais
bonita da classe, se o visse (estará viva?), lhe diria:
-- Que merda! O
toureiro foi-se: você está mais gordo que o touro.
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