quarta-feira, 3 de setembro de 2014

COISAS DA VIDA

A BURSITE

Violante Pimentel

Violante Pimentel é procuradora aposentada
 do Estado do Rio Grande do Norte.

(Por Violante Pimentel) Joaninha era uma mulher católica por tradição, e não tinha preconceito contra qualquer religião ou seita, desde que o objetivo fosse a prática do bem. Tinha amizade com pessoas de diversas religiões e era até convidada para participar de comemorações especiais na Igreja Evangélica da cidade. Dizia sempre que Deus era um só. Era uma mulher caridosa, prestativa, e muito querida em Nova-Cruz.

Joaninha, às vezes, sentia dores musculares. Um dia, passou a sentir uma dor localizada no ombro direito. Uma amiga leiga lhe diagnosticou BURSITE e lhe ensinou um remédio caseiro, feito à base de gengibre. Ela usou durante algum tempo, melhorou um pouco, mas não ficou curada. Certa manhã, acordou sentindo o ombro direito doer mais do que nunca. Queixou-se, então, à vizinha, e esta lhe deu o conselho de procurar um curandeiro que estava morando há pouco tempo na cidade. Essa vizinha lhe disse que tinha ouvido falar que esse homem dava uns "passes espirituais" milagrosos, que curavam todo tipo de dor, inclusive musculares. Joaninha, no íntimo, não acreditava nessas curas, mas não custava nada tentar. Aceitou a sugestão. A vizinha e outra amiga se ofereceram para acompanhá-la à consulta. Somente por curiosidade, pois a crença das duas também era fraca.

O atendimento do curandeiro acontecia no pico do meio dia. Na hora certa, as três mulheres chegaram à sua casa, em busca do passe milagroso, que iria curar a bursite de Joaninha.

Segundo os boatos que corriam pela cidade, o homem incorporava um "doutor invisível". Pra ficar boa dessa dor, valia a pena Joaninha fazer qualquer coisa.

A casa do "doutor" ficava num bairro afastado, chamado "Alto de São Sebastião".  O homem recebeu as três mulheres numa grande sala, onde havia, apenas, uma pequena mesa encostada na parede, contendo algumas imagens. No chão havia um grande círculo desenhado a carvão, contendo no centro uma vela grossa, já acesa.

Joaninha, então, falou ao homem sobre a dor que estava sentindo no ombro direito, e que não havia jeito de desaparecer. Ele, então, ordenou-lhe que o acompanhasse, imitando seus passos ao redor do círculo Disse pra Joaninha que iria ser iniciada a "dança da Jurema". Começou a fazer uns passos de dança esquisitos, pra frente e pra trás, entoando um "bendito" em louvor ao Rosário de Maria, e intercalando-o com uma "oração forte". Parecia estar recebendo alguma entidade espiritual.

Joaninha não gostou nenhum pouco de ter de acompanhar os passos do homem na tal "dança da Jurema". Com mais de sessenta anos, baixa e bastante gorda, a mulher sentiu-se ridícula naquele ritual, e teve vontade de sair dali correndo. Mas logo procurou se controlar, pensando no ditado popular, que diz: "quem vai pra chuva tem que se molhar" . Pensou no "passe milagroso" que iria receber e quis acreditar que iria ser curada da bursite. Acompanhou, então, desengonçada e contrariada, os passos da tal "dança da Jurema".
 
De repente, as duas amigas de Joaninha tiveram uma crise de riso, na sala onde assistiam o ritual da "dança da Jurema" e foram expulsas pela "entidade" recebida pelo curandeiro. Sairam às gargalhadas e ficaram na calçada, aguardando Joaninha, que, depois de receber o passe, deixou a casa do curandeiro com a mesma dor no braço, e culpando as duas mulheres pelo fracasso da sessão." Na volta pra casa, Joaninha veio reclamando:

- Ave Maria,vocês duas são horríveis!!! Esse "passe milagroso" não me serviu pra nada...Vocês botaram tudo a perder...





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