A BURSITE
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(Por
Violante Pimentel) Joaninha
era uma mulher católica por tradição, e não tinha preconceito contra qualquer
religião ou seita, desde que o objetivo fosse a prática do bem. Tinha amizade
com pessoas de diversas religiões e era até convidada para participar de
comemorações especiais na Igreja Evangélica da cidade. Dizia sempre que Deus
era um só. Era uma mulher caridosa, prestativa, e muito querida em Nova-Cruz.
Joaninha, às vezes,
sentia dores musculares. Um dia, passou a sentir uma dor localizada no ombro
direito. Uma amiga leiga lhe diagnosticou BURSITE e lhe ensinou um remédio
caseiro, feito à base de gengibre. Ela usou durante algum tempo, melhorou um
pouco, mas não ficou curada. Certa manhã, acordou sentindo o ombro direito doer
mais do que nunca. Queixou-se, então, à vizinha, e esta lhe deu o conselho de
procurar um curandeiro que estava morando há pouco tempo na cidade. Essa
vizinha lhe disse que tinha ouvido falar que esse homem dava uns "passes
espirituais" milagrosos, que curavam todo tipo de dor, inclusive
musculares. Joaninha, no íntimo, não acreditava nessas curas, mas não custava
nada tentar. Aceitou a sugestão. A vizinha e outra amiga se ofereceram para
acompanhá-la à consulta. Somente por curiosidade, pois a crença das duas também
era fraca.
O atendimento do
curandeiro acontecia no pico do meio dia. Na hora certa, as três mulheres
chegaram à sua casa, em busca do passe milagroso, que iria curar a bursite de
Joaninha.
Segundo os boatos que
corriam pela cidade, o homem incorporava um "doutor invisível". Pra
ficar boa dessa dor, valia a pena Joaninha fazer qualquer coisa.
A casa do
"doutor" ficava num bairro afastado, chamado "Alto de São
Sebastião". O homem recebeu as três
mulheres numa grande sala, onde havia, apenas, uma pequena mesa encostada na
parede, contendo algumas imagens. No chão havia um grande círculo desenhado a
carvão, contendo no centro uma vela grossa, já acesa.
Joaninha, então, falou
ao homem sobre a dor que estava sentindo no ombro direito, e que não havia
jeito de desaparecer. Ele, então, ordenou-lhe que o acompanhasse, imitando seus
passos ao redor do círculo Disse pra Joaninha que iria ser iniciada a
"dança da Jurema". Começou a fazer uns passos de dança esquisitos,
pra frente e pra trás, entoando um "bendito" em louvor ao Rosário de
Maria, e intercalando-o com uma "oração forte". Parecia estar
recebendo alguma entidade espiritual.
Joaninha não gostou
nenhum pouco de ter de acompanhar os passos do homem na tal "dança da
Jurema". Com mais de sessenta anos, baixa e bastante gorda, a mulher
sentiu-se ridícula naquele ritual, e teve vontade de sair dali correndo. Mas
logo procurou se controlar, pensando no ditado popular, que diz: "quem vai
pra chuva tem que se molhar" . Pensou no "passe milagroso" que
iria receber e quis acreditar que iria ser curada da bursite. Acompanhou,
então, desengonçada e contrariada, os passos da tal "dança da
Jurema".
De repente, as duas
amigas de Joaninha tiveram uma crise de riso, na sala onde assistiam o ritual
da "dança da Jurema" e foram expulsas pela "entidade"
recebida pelo curandeiro. Sairam às gargalhadas e ficaram na calçada,
aguardando Joaninha, que, depois de receber o passe, deixou a casa do curandeiro
com a mesma dor no braço, e culpando as duas mulheres pelo fracasso da
sessão." Na volta pra casa, Joaninha veio reclamando:
- Ave Maria,vocês duas
são horríveis!!! Esse "passe milagroso" não me serviu pra
nada...Vocês botaram tudo a perder...
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