O fato de ser incompreendido não o fez ressentido – com o perdão da rima, vagabunda e acidental. Se magoado fosse, dirigiria sua ira profana contra a família. E o alvo principal seria ela – a patroa –, matriz dos boicotes que sofre na área do empreendedorismo. Mas nunca fez isso. Entende as limitações alheias. É homem de paz. E de planos.
A seu modo, sempre foi um cidadão empreendedor. Que
nenhum de seus negócios próprios tenha dado certo não lhe parece motivo
suficiente para que tentem sufocar sua vocação. Já atuou na área de
comunicação. É jornalista. Teve um jornal de bairro e um escritório de
assessoria. Faliram. Não por falta de empenho e talento. Os sócios eram bons,
mas só eles acreditavam nisso. A experiência mais traumática foi no campo de
secos molhados. Comprou um empório. No começo, não tinha muita mercadoria.
Investiu pesado – para os seus padrões, claro. Em pouco tempo, além da
mercadoria escassa, não tinha mais fregueses. Maldito fiado. Da criação de galinhas prefere não falar.
Está convencido de que uma vida tão rica em
experiências empresariais, como a sua, não pode passar em branco. Quer escrever
um livro. O título provisório é este: “Não se abale com fracassos. A vitória
final é certa!” Prestes a explodir, a mulher argumenta:
-- Está na cara: isso não vai vender. Você não tem
senso de ridículo? Seus negócios nunca deram certo. Que editora vai publicar
uma coisa dessas?
-- Nenhuma. Vamos bancar a edição com nossos
próprios recursos.
-- Enlouqueceu de vez! Na poupança ninguém mexe!
Louco.
Talvez tenha que escrever outro livro antes desse,
na linha do “não deixe sua família ser um freio de mão a frustrar a realização
de seus sonhos”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário