terça-feira, 16 de abril de 2019

SEXTA DA PAIXÃO: ÓLEO DE RÍCINO E PANCADÃO

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Ilustração: Arquivo Google

Os tempos mudaram – e muito. A sexta-feira da Paixão está aí para confirmar o que acabo de escrever. Se eles mudaram pra pior, se mudaram pra melhor, é algo sobre o qual cada um tem sua opinião. Sou de um tempo em que, naquele dia “santo”, ninguém tirava pó dos móveis, ligar rádio era pecado capital, poucos tomavam banho. Uma tia minha se gabava de dizer que, na véspera do sábado de Aleluia, só aguava – quando muito e se tanto – as “partes principais”. É verdade que ela nunca nos explicitou quais seriam tais partes. Mas, para bom entendedor, pingo é letra. Não é preciso desenhar.

Minha avó, por exemplo, implicava com seu Osvaldo, um vizinho nosso. Homem de nenhuma palavra, ele passava a sexta-feira da Paixão cantarolando, carpindo o terreno ou batendo laje. Trabalhava com vigor jamais visto em outros dias do ano. Mais: parecia trabalhar com alegria, apesar das orelhas quentes pelas imprecações de minha avó: “Um diabo desses vai arder no inferno”. Hoje, acho que, sem querer, ela pecava mais que ele, por conta de seus impropérios.

O coitado do Zé Pedro, outro vizinho, colega de peladas, fez a besteira de dizer à família que havia comido não me recordo onde um croquete de carne. Foi submetido a uma terapia intensiva de purificação. Não me recordo os ingredientes da beberagem. Só sei que era uma mistura de óleo de rícino (em doses cavalares), boldo do Chile e sal amargo. O que o impediu de, no sábado, malhar o Judas e de saborear os ovos de Páscoa, no domingo. Passou a segunda tomando soro caseiro. Estava desidratado, mas purificado.

Hoje, como sabemos, o consumo de carne há muito está oficialmente liberado pela Igreja Católica, o óleo de rícino já não é usado com tanta frequência, quem trabalha não é amaldiçoado, quem lava além das partes principais também não. O que é bom. Mas é preciso ligar o som do carro no último volume e promover um "pancadão" em plena sexta da Paixão? 

(OS – ABRIL DE 2013, ATUALIZADO EM ABRIL DE 2019)

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JÁ QUE O ASSUNTO É PÁSCOA,
LEIA TAMBÉM O TEXTO ABAIXO



Atire a primeira colomba quem já não se viu na constrangedora situação de presentear um parente ou amigo com uma colomba e receber – de volta e de pronto – outra colomba? 
Por Orlando Silveira
https://orlandosilveira1956.blogspot.com/2016/03/coelhinho-da-pascoa-o-que-trazes-pra-mim.html#comment-form

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