sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

POLÍTICA/OPINIÃO: MARCO ANTONIO VILLA

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Lula: valentia de palanque
Foto: Google

LULA E A IRONIA DA HISTÓRIA

Assim como no sindicalismo, os intelectuais transformaram
o PT numa cesura. Seria o primeiro partido de trabalhadores
da história do Brasil. Tudo o que existiu antes de 1980
não passava de pré-história – e que deveria ser ignorada

Por Marco Antonio Villa
Correio Braziliense/Estado de Minas
31/01/2018

Lula sempre teve como princípio não ter princípio. Isto desde o início da sua vida sindical, em 1972, quando seu irmão, frei Chico, o colocou na diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, como um representante informal do Partido Comunista Brasileiro, o Partidão.

Nem bem se instalou no cargo – era diretor de Previdência – esqueceu o acordo que fez com o irmão e começou a fazer a sua própria política. Três anos depois assumiu a presidência do sindicato. Liderou greves. Era radical na frente dos trabalhadores e conciliador junto ao empresariado. Usou das paralisações para se projetar no mundo sindical. Apagou as lideranças que o precederam e impediu o surgimento de outras. Temia comparações. Contou com a preciosa ajuda de intelectuais. Estes construíram o mito do dirigente sindical autêntico, que rompia com o peleguismo e o velho Partidão. Ele era o novo. Com ele nascia o verdadeiro sindicalismo, de acordo com seus acólitos. Toda história precedente do ABC paulista, com greves desde a primeira década do século XX, foi ignorada.

Em 1980 participou da fundação do Partido dos Trabalhadores. Logo foi alçado à presidência. Assim como no sindicalismo, os intelectuais transformaram o PT numa cesura. Seria o primeiro partido de trabalhadores da história do Brasil. Tudo o que existiu antes de 1980 não passava de pré-história – e que deveria ser ignorada. Assim, Lula teria sido o líder que construiu duas rupturas: no sindicalismo e na política partidária.

Lançou-se candidato ao governo de São Paulo, em 1982. Ficou em quarto lugar. O partido também não alcançou o número mínimo de votos para ter representação parlamentar. Porém, o regime militar transferiu a exigência legal para 1986. O objetivo era claro. Dar espaço político para que o PT disputasse com os adversários temidos pelo regime militar: os comunistas e os brizolistas.

Participou da campanha das diretas já. Usou da estrutura do PMDB para ficar conhecido nacionalmente. Sempre buscou a divisão. Não apoiou a candidatura Tancredo Neves. Em 1986 foi um dos deputados mais votados mas o PT elegeu apenas 16 parlamentares. Na Assembleia Constituinte teve papel irrelevante. Faltou a boa parte das sessões. Não conseguia acompanhar os debates. A complexidade da construção de uma nova Constituição estava muito acima da sua capacidade de entendimento.

Em 1989 aproveitou o clima favorável e chegou ao segundo turno da eleição presidencial. No momento mais tenso da campanha – a semana que precedeu a eleição – não conseguiu enfrentar seu adversário, Fernando Collor. Perdeu o último debate assim como a eleição. Cinco anos depois tentou novamente. Foi derrotado no primeiro turno. Em 1998 diz que foi para o sacrifício. Foi humilhado no primeiro turno. Depois de quatro derrotas consecutivas para o Executivo – incluindo a eleição de 1982 – teve sua liderança questionada. Como de hábito, não aceitou. Queria permanecer como líder inconteste e, claro, sustentado pelo partido. Não trabalhava desde 1972! Em 2002 completaram-se trinta anos de ociosidade. Mesmo assim, seus comparsas espalhavam aos quatro ventos que o Brasil teria a oportunidade de, pela primeira vez, eleger um trabalhador para a Presidência da República.

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Marco Antonio Villa é historiador

Pensando em chegar ao poder de qualquer forma, Lula buscou, desta vez, alianças políticas com setores que eram considerados reacionários. Fez um acordo com o Partido Liberal. Comprou a aliança por dez milhões de reais e compôs a chapa com o empresário José Alencar. Venceu duas vezes, mesmo em meio aos escândalos, especialmente o mensalão. Contou com a passividade do principal partido de oposição, o PSDB. Alcançou sua maior glória no segundo mandato. Foi chamado de estadista. Continuava o mesmo da época do sindicato: sem caráter, sem princípios, um oportunista. Mas sempre sagaz. Lia bem a conjuntura política, favorecido – é verdade – pela mediocridade dos políticos oposicionistas. Conseguiu – com base em duas campanhas milionárias, as mais caras da história – eleger um poste como sucessor.

Mas foi em 2014, paradoxalmente, que teve seu grande tropeço. Foi emparedado por Dilma Rousseff. Queria voltar e se perpetuar no poder. Tinha tentado, em 2008, alterar a Constituição permitindo três mandatos consecutivos, mas não passou das confabulações iniciais. Estando doze anos no governo, o PT tinha, em 2014, todas as condições para eleger Lula e estabelecer o continuísmo ad eternum. Contava com a simpatia da direita parlamentar lulista, o apoio do grande capital e a falta de combatividade dos tucanos. Vencendo, iria concluir a tomada do aparelho de Estado. Era, como definiu o ministro Celso de Mello, o projeto criminoso de poder. Seria inimaginável um processo de impeachment contra Lula, como ocorreu com sua sucessora. Ou alguma condenação judicial. Assim, suprema ironia da história, o Brasil foi salvo por Dilma Rousseff.

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