A CAÇADA
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(Por Violante Pimentel) Seu
José Araújo, gerente do Consórcio Algodoeiro de Nova-Cruz (RN), era muito
franco, não gostava de mentiras e era muito espirituoso. Era um homem forte,
alto, alvo e corado, e tinha os olhos azuis. Gostava de brincar com as pessoas,
apesar de sua aparência carrancuda. Tinha a cara fechada e falava tão sério,
que suas brincadeiras tinham a conotação de verdades.
Numa
manhã, logo cedo, ele estava na porta do escritório da usina, quando viu passar
um pequeno grupo de homens humildes, cada qual levando uma mochila no ombro e
uma espingarda debaixo do braço. Ele entendeu que aqueles homens estavam indo
caçar, mas só por danação perguntou:
-
Para onde vocês estão indo, com essas espingardas e essas mochilas?
Um
dos homens respondeu:
-
Nós vamos caçar, Seu Zé!
-
Caçar o quê? - perguntou Seu José
Araújo.
O
homem respondeu:
-
Nós vamos caçar “arribaçã” (aves de arribação), rolinha e preá...
Usando
a franqueza rude, que lhe era peculiar, Seu José Araújo respondeu:
-
Como é que vocês não têm vergonha de uma coisa dessa? Vocês vão caçar uns
bichinhos inocentes, que não fazem mal a ninguém!!!
E
continuou:
-
Por que vocês não vão caçar esse prefeito safado de Nova-Cruz, o vice-prefeito e os vereadores, esse bando de
ladrões?!!!
Os
matutos se entreolharam e o menos encabulado respondeu:
-
Mas “nós caça pra comer", Seu Zé!!!
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