quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

COISAS DA VIDA

MORTE NO CARNAVAL
 

Violante Pimentel é procuradora aposentada
 do Estado do Rio Grande do Norte


(Por Violante Pimentel) Numa certa manhã, um humilde cachaceiro, muito conhecido nas ruas de Natal,  perambulava pelos bares, pedindo ajuda em dinheiro para fazer  o enterro do pai,  que falecera em pleno sábado de carnaval. As pessoas se comoveram e procuraram ajudá-lo, na medida do possível. A solidariedade humana sempre se manifesta nessas horas. O seu pedido se estendeu, também, a algumas residências, inclusive à de um respeitado comerciante, conhecido por José Cancão, que lhe deu uma boa ajuda. 

O pobre homem demonstrou, naquela hora, muito sofrimento. Emocionado, agradeceu a todas as pessoas que o ajudaram.

Um ano depois, por coincidência, em pleno carnaval, o pobre coitado apareceu novamente nos bares, após sofrer novo golpe do destino. Dessa vez, a vítima fora a sua mãe, que, segundo ele, morrera de câncer. A cena se repetiu e todas as pessoas o ajudaram com algum dinheiro para que ele providenciasse o funeral da pranteada genitora.

O tempo passou e chegou novamente o carnaval. O mesmo homem tornou a explorar a caridade pública, pedindo, novamente, ajuda para o enterro  do pai, no primeiro dia do período momesco.

Após conseguir uma razoável quantia em dinheiro, o homem sumiu das ruas do centro da cidade, indo cair na folia na periferia, bebendo cachaça à vontade.

O tempo deu outra volta e chegou novamente o carnaval. O inveterado cachaceiro, mais uma vez, procurou ajuda em bares, e de casa em  casa, dizendo que a mãe havia morrido naquela madrugada e que ele não tinha dinheiro para comprar o caixão.

Várias pessoas se comoveram e contribuíram para o enterro da mulher. Por coincidência, o pedinte choroso bateu palmas, mais uma vez, na casa de José Cancão, que o atendeu e ouviu sua história. Dono de uma memória privilegiada e ótimo fisionomista, o comerciante se lembrou de que já havia, anos atrás, contribuído para o “enterro” da mãe e para dois enterros do pai do pedinte. Agora, portanto, já seria o segundo enterro da mãe do cachaceiro.

José Cancão, ao entender que aquilo se tratava de uma grande mentira, encarou o malandro e falou, quase gritando, com a sua voz grave e ameaçadora:

- Olhe aqui, seu cabra safado: Pai, você pode ter mais de um!!! Mas mãe você só pode ter uma. Eu já lhe dei uma ajuda para o enterro de sua mãe há  muito tempo!!!

O malandro saiu dali correndo!!!




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