MORTE NO CARNAVAL
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(Por Violante Pimentel) Numa
certa manhã, um humilde cachaceiro, muito conhecido nas ruas de Natal, perambulava pelos bares, pedindo ajuda em
dinheiro para fazer o enterro do
pai, que falecera em pleno sábado de
carnaval. As pessoas se comoveram e procuraram ajudá-lo, na medida do possível.
A solidariedade humana sempre se manifesta nessas horas. O seu pedido se
estendeu, também, a algumas residências, inclusive à de um respeitado
comerciante, conhecido por José Cancão, que lhe deu uma boa ajuda.
O
pobre homem demonstrou, naquela hora, muito sofrimento. Emocionado, agradeceu a
todas as pessoas que o ajudaram.
Um
ano depois, por coincidência, em pleno carnaval, o pobre coitado apareceu
novamente nos bares, após sofrer novo golpe do destino. Dessa vez, a vítima
fora a sua mãe, que, segundo ele, morrera de câncer. A cena se repetiu e todas
as pessoas o ajudaram com algum dinheiro para que ele providenciasse o funeral
da pranteada genitora.
O
tempo passou e chegou novamente o carnaval. O mesmo homem tornou a explorar a
caridade pública, pedindo, novamente, ajuda para o enterro do pai, no primeiro dia do período momesco.
Após
conseguir uma razoável quantia em dinheiro, o homem sumiu das ruas do centro da
cidade, indo cair na folia na periferia, bebendo cachaça à vontade.
O
tempo deu outra volta e chegou novamente o carnaval. O inveterado cachaceiro,
mais uma vez, procurou ajuda em bares, e de casa em casa, dizendo que a mãe havia morrido naquela
madrugada e que ele não tinha dinheiro para comprar o caixão.
Várias
pessoas se comoveram e contribuíram para o enterro da mulher. Por coincidência,
o pedinte choroso bateu palmas, mais uma vez, na casa de José Cancão, que o
atendeu e ouviu sua história. Dono de uma memória privilegiada e ótimo fisionomista,
o comerciante se lembrou de que já havia, anos atrás, contribuído para o
“enterro” da mãe e para dois enterros do pai do pedinte. Agora, portanto, já
seria o segundo enterro da mãe do cachaceiro.
José
Cancão, ao entender que aquilo se tratava de uma grande mentira, encarou o
malandro e falou, quase gritando, com a sua voz grave e ameaçadora:
-
Olhe aqui, seu cabra safado: Pai, você pode ter mais de um!!! Mas mãe você só
pode ter uma. Eu já lhe dei uma ajuda para o enterro de sua mãe há muito tempo!!!
O
malandro saiu dali correndo!!!
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