quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

CLÓVIS CAMPÊLO

QUEM PODERÁ ENTENDER O MUNDO?




Não somos os donos do mundo. Muito pelo contrário. Estamos nele inseridos e nem sempre conseguimos entender a lógica do seu funcionamento. Para complicar ainda mais, a natureza nos deu o dom do pensamento e da memória. A partir daí, idealizamos e entramos em choque com o real. Essa angústia é inerente ao ser humano.

Vejam as galinhas, as maiores amigas do homem (não é o cachorro e nem o uísque). Simplesmente vivem. Ciscam, poem seus ovos em paz (não sei se curtem a TPM diária, as consequências da ovulação constante). Não têm preocupações com o comunismo, com as oscilações das bolsas de valores, não poluem os oceanos e nem os ares. Simplesmente vivem sem idealizar nada do que seja. Com seus olhos de galinha, não enxergam nada que não seja a realidade imediata: a comida, os pequenos insetos que as alimentam, a água para beber, etc. Tudo muito simples.

A complexidade da vida que inventou fomos nós, os humanos. Adulteramos a natureza, criamos máquinas nem sempre úteis, evoluimos, perdemos a nossa condição intuitiva e instintiva. Inventamos a literatura, as religiões, as leis, as regras sociais, os sentimentos baratos, a angústia e a infelicidade. E ainda nos achamos feitos à semelhança de algum ser superior existente.

Somos realmente inteligentes ou a inteligência foi apenas mais um mecanismo diabólico inventado para a nossa infelicidade?

Sei que não é de bom aviltre filosofar antes da hora do almoço. Sabe como é: a barriga vazia, a hipoglicemia podem nos fazer delirar, inventar fantasias, nos trair. Como seres perdidos no deserto, andamos em cículos sem nos encontrarmos e ficamos a delirar, imaginando fantasias exóticas e oásis ideais.

Que diabo de mundo é esse onde o pensamento do ser humano em vez de levá-lo à felicidade cria dicotomias, guerras fratricidas, inatisfações, violência, artificialismos degradantes.

Sei lá! A vida é curta, passa depressa e nem sempre devemos alimentar a ilusão de que temos controle sobre isso tudo.
Imaginem se usassemos mais de 10% da nossa cabeça animal. Poderia ser muito pior. O mundo é simples se o entendermos como o vemos, sem idealizações bobas e sem fantasias construtivistas inúteis.

Não sei se isso é possível, já que essa crônica besta é mais uma divagação, uma construção teórica sobre o nada.

Mas que ao menos tentemos exercitar a simplicidade e a compreensão.

Antes que o outro nos destrua.

Recife, 2010


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