ENTRE A NEURASTENIA E O ESTRESSE
É
interessante como no dinamismo de uma língua algumas palavras deixam de ser
utilizadas e são substituídas por outras. A palavra neurastenia é uma delas.
O
Minidicionário Escolar da Língua Portuguesa, da Companhia Melhoramentos, assim
a define: “1. Fraqueza do sistema nervoso. 2 Esgotamento nervoso”. Hoje,
ninguém mais é chamado de neurastênico, ninguém mais sabe o que é neurastenia.
Hoje, existe o estresse e o estressado. Segundo o mesmo dicionário, estresse é
a “reação do organismo a influências nocivas de ordem física, psíquica,
infecciosa, capazes de perturbar o equilíbrio interno”.
Ou
seja, a primeira definição nos dá a impressão de que o problema é orgânico,
interno; enquanto na segunda, a alteração ocorre por conta de fatores externos
diversos que nos influenciam. Existe uma certa diferença nas definições,
portanto.
Segundo
a Wikipédia, Virgínia Woolf, Marcel e Proust e Max Weber seriam neurastênicos
notáveis. A primeira, durante toda a sua vida foi forçada a fazer repousos
terapêuticos, os quais descreve no livro “On Being III”, traduzido em “Por
estar doente”, onde a escritora tenta estabelecer a doença como um assunto
sério da literatura.
Marcel
Proust, na verdade, era um maníaco depressivo, condição essa adquirida, talvez,
em razão do consumo desenfreado de açúcar – as madalleines – que o autor
descreve na sua obra “Em busca do tempo perdido”. Filho de família rica e
frequentador dos salões da sociedade francesa da época, podia se dar ao luxo de
ter uma alimentação excessivamente rica em carboidratos. Maravilhado, descobri
a certo tempo que o petisco tão louvado pelo autor, tratava-se nada mais nada
menos do que os bolinhos de bacia tão consumidos nas feiras das cidades do
Nordeste do Brasil. Aliás, a ligação entre o consumo demasiado de alimentos adocicados
e os surtos depressivos já são considerados pela medicina moderna, coisa
desconhecida naquela época.
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CLÓVIS CAMPÊLO |
Max
Weber, sociólogo e historiador, teria tido uma grave crise neurastênica, após a
morte do pai, com o qual havia rompido pouco antes. Com certeza, Freud
explicaria o fato. A verdade é que, entre 1897 e 1901, esteve internado em
sanatórios, tendo ficado vários meses em Roma, onde recuperou as forças.
Já
o termo estresse foi usado pela primeira vez em 1936, pelo médico Hans Selye,
na revista Nature.
Na
verdade, em ambos os casos, existe um sofrimento do indivíduo causado pelo
enfrentamento de situações que lhe provocam ansiedade e depressão, embora essa
capacidade de enfrentamento de tais situações varie de indivíduo para
indivíduo.
Enfim,
o mundo moderno em que vivemos, com suas exigências e seus desafios constantes
serve de motivo para que estressados ou neurastênicos aprendam a com ele
conviver e superar os impasses constantes que se oferecem.
Sobreviver
é preciso.
Recife,
fevereiro 2015