SEM CHORO NEM VELA
Clóvis Campêlo |
Desonerados
pela goleada sofrida contra a Alemanha, disputamos o terceiro lugar no sábado,
em Brasília, e voltamos a amargar outra derrota: Holanda 3x0. Assim, de revés
em revés, superamos duas marcas negativas ao longo da história da nossa seleção
de futebol: levamos dez gols em dois jogos seguidos, fato absolutamente
inédito, e sofremos duas derrotas consecutivas em uma mesma copa do mundo, o
que não acontecia desde 1974, quando perdemos por 2x0 para a Holanda de Cruijf
e Neeskens, e perdemos depois, na disputa pelo terceiro lugar, para a Polônia
de Lato.
A
nossa campanha, aliás, nesta Copa do Brasil foi bastante sofrível: em sete
jogos, três vitórias, dois empates e duas derrotas. Marcamos onze tentos e
sofremos quatorze, com um saldo negativo de três gols. Até a vitória contra a
Colômbia, uma campanha razoável. Depois, o desastre total, o vexame.
Baseados
na campanha vitoriosa da Copa das Confederações, no ano passado, quando no jogo
final derrotamos por 3 x 0 nada mais nada menos do que a Espanha de Iniesta,
campeã do mundo em 2010, na África do Sul, e vencedora do Campeonato Europeu de
Seleções, em 2012, repetimos praticamente os mesmos jogadores e o mesmo esquema
tático.
Desde
a primeira fase, porém, que o rendimento brasileiro não se mostrou o mesmo.
Quando o lateral esquerdo Marcelo, no jogo de abertura da Copa, marcou um gol
contra em favor da Croácia, foi pouco confortado por toda a equipe. Apenas o
goleiro Júlio César lhe foi solidário e o consolou. Toda o restante da equipe
ficou indiferente, como se não tivesse nada a ver com o acontecido. Marcelo,
aliás, que segundo alguns comentaristas esportivos brasileiros seria o jogador
brasileiro cujo nível técnico mais se aproximaria do de Neymar, teve um
desempenho apenas razoável.
Toda
a equipe, aliás, seguiu esse nível técnico. Até mesmo a dupla de zaga, formada
por David Luiz e Tiago Silva, mostrou um desempenho de baixa qualidade,
cometendo erros individuais e coletivos fatais e que influíram diretamente no
resultado dos dois últimos jogos, comprometendo-se e comprometendo o conceito
de grandes jogadores do qual desfrutavam.
No
último jogo contra a Holanda, inclusive, quando um grande público compareceu à
Arena Mané Garrincha, em Brasília, esperando uma grande vitória da Canarinha e
uma atuação reabilitadora, mais outra imensa decepção. Vimos um time sem alma e
sem garra ser facilmente envolvido pela Holanda de Robben e Van Persie que, sem
muito esforço, nos impôs uma outra goleada.
Júlio César e David Luiz |
Resta-nos
agora iniciar um trabalho de renovação humano e conceitual, já que muitos dos
jogadores do elenco atual estarão com a idade avançada na Copa do Mundo da
Rússia, em 2018, e já que os nossos conceitos táticos mostraram-se dentro de
campo ineficazes e superados.
Nesta
Copa do Mundo, lá se foi uma camisa amarela sem direito a choro e nem vela!
Recife,
2014
Ficou um gosto amargo de frustração, decepção. Fazer de conta que tudo correu as mil maravilhas, é menosprezar as Copas atravessadas ao longo de nossos caminhos. Perder, mas com dignidade, faz parte da trajetória dos que sabem vencer.
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