quinta-feira, 31 de julho de 2014

CAMINHO SUAVE

Meu pai, grande pai, tentou me ensinar grandes coisas. Pobre pai. Por birra, burrice minha, aprendi pouco. Fui mau aluno. Paciência. Nunca quis ser o primeiro da classe. O penúltimo lugar sempre me pareceu suficiente. Dos ensinamentos do pai, incorporei um, definitivo:

-- Deus não se manifesta no barulho.  


kdfrases.com

NÚBIA NONATO

GOSTO 

Gosto de frases curtas, de contemplação.
Gosto do alarido das aves, em profusão.
Gosto de olho no olho, compreensão.
Gosto do silêncio, preces, redenção.
Gosto de imaginar que além-mar
alguém me ama...devaneios, ilusão...
Gosto porque gosto não me importa,
sonho...é tudo o que tenho.


Núbia Nonato
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CLÓVIS CAMPÊLO

SEU ARIANO

Ariano, mestre

E lá se foi seu Ariano. O mês de julho fica assim marcado por mais uma morte literária. Um autor que soube fazer a junção da cultura erudita com a tradição oral da cultura popular. Juntou tudo, colocou no liquidificador da imaginação e criou, entre outras coisas, o Movimento Armorial.

Lançada em 1970, segundo definição do próprio Ariano no Jornal da Semana de 20 de maio de 1975, a arte armorial seria aquela que tem como traço comum principal a ligação com o espírito mágico da literatura de cordel, com a música de viola, rabeca ou pífano que a acompanha, e com a iconografia das xilogravuras que ilustram as suas capas.

Alguns podem até questionar que esta teria sido mais uma apropriação indébito da arte do povo por um autor pequeno burguês, muito embora tenha resultado em obras fantásticas e de grande identificação como o imaginário do homem nordestino da classe média.

Outros podem até classificá-lo como xenófobo, haja vista a sua aversão pelo “modernismo” influenciado por culturas alienígenas. Quem não se lembra, por exemplo, do questionamento que teria feito a Chico Science sobre a adoção de tal nome: “Por que não Chico Ciência?”. Quem não se lembra, por exemplo, que sempre desconsiderou a Bossa Nova como um movimento musical autenticamente brasileiro, acusando-a de descaracterizar a MPB sob a influência do jazz? Quem não se lembra, por exemplo, da aversão que nutria pelo Movimento Tropicalista dos baianos Caetano Veloso e Gilberto Gil, por achar que avacalhava a cultura brasileira expondo os seus ridículos e contradições?

Poucos se lembram, porém, de que a tradição cultural popular nordestina está enraizada na cultura portuguesa medieval, transplantada para cá por nossos invasores e colonizadores. Nesse sentido, mestre Ariano “apenas” recusava-se a aceitar as influências modernizadoras da nossa cultura, reconhecendo como autêntico somente o que se manteve inalterado ou pouco modificado pela passagem do tempo.

Clóvis Campêlo

Poucos se lembram também que embora professasse ultimamente o credo socialista, resultante da aproximação que teve com o ex-governador Miguel Arraes, do qual foi vizinho no bairro de Casa Forte, nos anos 70, anos de chumbo da ditadura militar, foi secretário de cultura no governo biônico do prefeito Antônio Farias, entre 1975 e 1978, além de sócio fundador do Conselho Federal de Cultura, em 1967, indicado pelo reitor Murilo Guimarães da UFPE.

A aproximação com o ex-governador Miguel Arraes no início dos anos 90, aliás, levou-o a ocupar o cargo de Secretário Estadual de Cultura.

De agnóstico à cristão, de integrante do governo militar da ditadura ao credo socialista, assim foi Ariano Suassuna. Subindo o Morro da Conceição para homenagear a Santa ou dando as suas aulas-espetáculos nas universidades brasileiras, marcou presença na vida cultural brasileira dos séculos XX e XXI.

Recife, 2014



quarta-feira, 30 de julho de 2014

MARIA MOLE

pt.wikipedia.org

Coisa chata. 
Há dois dias, abro o FB e lá vem a propaganda vagabunda: 
quero me relacionar com homens mais velhos. 
Abro o e-mail, está lá, de novo: adoro coroas, como você. 
Como descobriram minha idade e limitações não sei. 
Mas a resposta é sempre a mesma. 
Querem moleza? 
Comprem Maria mole, o doce. Não estou à venda.


MÃO GRANDE

pt.wikipedia.org

Salomão, Salomão: você entra com a fama; o “bispo” entra com a mão.

MÂO GRANDE (II)

As madrugadas, no Brás, Celso Garcia, 528 e adjacências, ficarão ainda piores. Não bastasse a lástima atual. Quatro, quatro e pouco de sábado, nas sextas-feiras em que há “vigílias” de empresários, helicópteros nem pousam no heliponto, mas recolhem malotes e malotes de... De água benta certamente. Com o Templo de Salomão, a tendência é de piora.

MÃO GRANDE (III)

Perguntem ao “bispo” de Salomão por que sua irmã, deputada estadual, depois federal, largou a política. Arrisco um palpite: pregar para idiotas é (infinitamente) mais lucrativo. E menos perigoso.

MÃO GRANDE (IV)

Dia 31 de julho, inauguração do Templo de Salomão. Autoridades, autoridades. Todo mundo que tem “importância” vai lamber o saco do “bispo”. O “bispo” de Salomão não pode ter feito a desfeita de não convidar Aref, não é? Nem que seja pra ele, Aref, o facilitador, entre pelas portas do fundo. Num templo desses, não há de faltar saídas (nem entradas) de emergência.


COISAS DA VIDA...

POR CAUSA DE FUTEBOL   



(Por Violante Pimentel) Há dois tipos de torcedores de futebol: o torcedor controlado, sensato, que reconhece as falhas do seu time preferido e faz críticas quando ele joga mal, e o torcedor fanático, para quem o seu time é sempre o maioral, vença ou não vença. Esse tipo de torcedor  tem o pavio curto e reage a qualquer comentário negativo contra o seu time preferido. Não admite a mínima crítica. Mesmo que ele reconheça que, numa derrota, houve falha do time completo, ou de apenas um jogador,  ele morre e não diz, pra não “dar gosto” ao adversário.

Em Natal, os melhores times de futebol, com as maiores torcidas, são o América Futebol Clube e o ABC Futebol Clube. As duas torcidas são exaltadas e há torcedores fanáticos, dos dois times, que não conseguem conversar sem que a conversa termine numa discussão acirrada, por causa de algum jogo.

Alguns torcedores confusionistas já são conhecidos na cidade, tornando tenso qualquer ambiente onde eles se encontrem. 
Numa certa manhã de sábado, um fanático torcedor do América chegou a uma antiga barbearia da cidade, onde costumava cortar o cabelo e fazer a barba. Por coincidência, logo em seguida entrou um fanático e conhecido torcedor do ABC, que também era cliente da casa.

O velho barbeiro ficou nervoso quando viu os dois clientes chegarem ao mesmo tempo, pois ali já havia ocorrido sérias discussões entre os dois. Nenhum perdia a oportunidade de pilheriar e subestimar o time do adversário. Bastava um simples comentário sobre algum jogo desses dois times, e logo surgia entre eles uma violenta discussão.

Naquela manhã, para surpresa do velho barbeiro, os dois adversários se cumprimentaram cordialmente e foram logo atendidos pelos dois profissionais de que a casa dispunha. 

Para a tranquilidade de todos, fez-se um silêncio sepulcral. Nenhum dos dois clientes puxou assunto com ninguém. Até o velho barbeiro, que gostava muito de conversar, conseguiu controlar a língua e não abriu a boca. No íntimo, os dois profissionais não viam a hora de concluirem as suas tarefas, para que os dois homens briguentos se retirassem logo da barbearia, antes que houvesse algum aborrecimento. 

Os dois barbeiros terminaram, simultaneamente, o atendimento a esses dois clientes, adversários ferrenhos no futebol, e corria tudo na santa paz... 

De repente, o barbeiro que tinha na sua cadeira o fanático torcedor americano pegou a loção “pós–barba”, para passar na face do cliente. Ele recusou, dizendo em tom de gracejo:

- Amigo, não precisa colocar nenhum perfume, nenhuma loção “pós-barba”!  Minha mulher é uma jararaca e só quer um pé pra arengar. Quando ela me vir chegar em casa cheiroso, vai dizer, na minha cara, que eu estou voltando de um cabaré...

Na mesma hora, o outro barbeiro perguntou ao cliente abecedista:

- Posso colocar a loção "pós-barba” no senhor, doutor?

O cliente abecedista, ironicamente, respondeu em voz alta:

- Pode, amigo! Pode colocar bastante loção "pós-barba" no meu rosto! Eu quero chegar em casa bem cheiroso!!!  Graças a Deus, a minha mulher nunca foi em cabaré e não sabe nem que cheiro tem!!! Lembre-se que eu sou torcedor do ABC!!!

Esse foi o estopim da bomba!!! Os dois adversários se engalfinharam  numa briga feia, precisando que algumas pessoas viessem  apartá-los...


Violante Pimentel é procuradora aposentada
 do Estado do Rio Grande do Norte.




terça-feira, 29 de julho de 2014

CLÓVIS CAMPÊLO

TUDO MELHORA TODO O TEMPO?

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A vida não nos permite nenhuma outra alternativa do que caminhar sempre na linha reta do tempo. E, se o futuro a Deus pertence, o passado é nosso, um velho filme guardado nos porões da mente, podendo ser resgatado a qualquer momento.

Se o futuro é uma página em branco aguardando o seu desenho, o script do passado não pode ser modificado, a não ser pela imaginação. Todo esse processo se dá aqui e agora, no momento fugidio do presente.

Só nos resta, assim, caminhar para o futuro, para a frente, mesmo sabendo que lá, em alguma esquina do tempo, encontra-se o lance final, o umbral da transformação solitária. Para onde vamos? Sabe-se tanto quanto de onde e por que vinhemos!

Esse questionamento inútil é privilégio (ou sofrimento) que contempla apenas o ser humano. Divagamos, subjetivamos e sofremos por isso. Para que angústia diante do inevitável da vida?

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Mesmo assim, é de bom alvitre pensar que tudo melhora todo o tempo. Se nos é dado o direito de criar mecanismos compensatórios, esse pode ser um deles. O acervo memorialista do indivíduo (e talvez de todo o coletivo humano) é sempre definido pelo que já se passou. Os bons momentos vividos e as realizações gratificantes insistem em se repetir. Por seu lado, as experiências negativas e traumatizantes criam em nossos inconscientes bloqueios defensivos e isolantes. Assim, instintivamente, tendemos a repetir o que achamos que pode ser certo e satisfatório sempre. Não entendemos, dialeticamente, que o que mantém a vida pode ser o mesmo que a ceifa. Do mesmo modo, a ameaça imaginada também pode ser a salvação. Ao nosso racionalismo, alimentado por séculos, não cabe entender isso.

O ideal seria alimentarmos a indiferença diante do que nos foge ao controle. Até porque talvez não exista controle algum sobre nada. A ideia do controle generalizado seria mais uma tentativa desesperada de sobrevivência do nosso ego (sem o corpo, ele não mais existe).

Talvez, como diria o poeta Bandeira, só nos reste relaxar e dançar um tango argentino. Chega de enganarmos a nós mesmos. Afinal, pior do que está ainda pode ficar. O somatório da experiência humana é que nos diz isso. Por que, então, insistir em nadar contra a corrente do tempo retilíneo?

Ou então colocar na vitrola aquela canção do Roberto. É preciso saber viver. Sem medos e sem ódios. Exercitar o olhar calmo dos mártires diante do inevitável.

Talvez entender que viver é praticar a capacidade de suportar a vida no que ela ainda não nos mostrou de pior. Resignar-se como o cordeiro a ser imolado.

Deixemos que os quatro fabulosos continuem a cantar “Is getting better all the time”!

Recife, 2014


segunda-feira, 28 de julho de 2014

RAMERRÃO

dnarubronegro.com.br

O debate político no Brasil está interditado. Há tempos. O que temos são discussões – melhor dizendo, bate-bocas –, cuja mediocridade foi elevada à enésima potência. Não vamos além do “a favor” ou “contra”. Não discutimos, com seriedade, projetos para o país. O Congresso Nacional – e isso vale para as demais casas legislativas – virou um bordel da “mãe Joana”, ponto de encontro de negocistas da pior espécie.

Oposicionistas acusam o governo federal de incompetente e corrupto. Governistas não deixam por menos: apontam corrupção e incompetência nos governos municipais e estaduais sob o comando dos oposicionistas. A tentação de acreditar que ambos têm razão é enorme. As maiorias legislativas não são construídas nem mantidas em cima de propostas programáticas. O que as sustentam é o adesismo interesseiro, corrupto.

O distinto público – ao menos aquela parcela que ainda tem preferência (ou ojeriza) por partidos – entra no clima de FLA-FLU: só vê defeitos nos do lado “de lá” e faz vistas grossas para os erros do lado “de cá”. A maioria, que não acredita em mais ninguém, já bateu o martelo: “São todos farinha do mesmo saco”.

E o país segue nessa vidinha besta, numa rotina tola, sem crítica nem reflexão.


sexta-feira, 25 de julho de 2014

BRUNO NEGROMONTE

Dois compassos de delicadeza
Dois nomes, dois talentos. De um lado Delcio Carvalho, sambista carioca cujo a dureza do corte da cana lhe substanciou com uma doçura ímpar nesses mais de 40 anos de estrada e centenas de composições ao lado dos mais diversos nomes de nossa música. Dentre as canções de sua lavra há verdadeiros clássicos de nossa música popular brasileira como “Sonho meu”, “Acreditar” e“Minha verdade”, além de tantas outras em parceria com os mais diversos conceituados compositores como Dona Ivone Lara, Wilson Das Neves, Noca da Portela, Ivor Lancelotti, Zé Kéti, Luisão Maia entre outros. Além disso o rol de intérpretes de sua canção conta com nomes como Marisa Gata Mansa, Elza Soares, Martinho da Vila, Maria Creuza, Elizeth Cardoso, Alcione, Beth Carvalho, Gal Costa, Nana Caymmi, Clementina de Jesus, Jair Rodrigues, Nara Leão, Maria Bethânia, Vanessa da Mata, Mônica Salmaso, Clara Nunes, entre outros que fazem com que seu nome figure entre os maiores compositores do gênero ao qual escolheu e defende de modo elegante e coerente desde a década de 1960, quando passou a morar na capital do Rio de Janeiro participando de diversos programas de calouros e shows de Gomes Filho, da Rádio Guanabara. Vem desse período a composição, em parceria com Dias Soares, “Pingo de felicidade”, gravado na época pela cantora Cristiane.
A partir daí passou a ingressar o grupo Lá Vai Samba, onde ganhou uma visibilidade maior como compositor, chegando a ingressar na Ala de Compositores da Imperatriz Leopoldinense no início da década de 1970 e começou a ganhar a visibilidade de grandes intérpretes como foi o caso da 'divina' Elizeth Cardoso, que gravou ao longo de toda a década cerca de cinco canções de sua autoria: “Serenou”, “Igual à flor” (em parceria com Neizinho) e “Pra quê, afinal?” (composta com Mauro Duarte), “Voltar” e “Minha Verdade” (composição a quatro mãos com Dona Ivone Lara). Ao longo da década seguinte Delcio chegou a fazer dois registros fonográficos, o primeiro em 1980 onde interpretou vários de seus sucessos e o segundo em 1987, álbum que contou com participações de nomes como o maestro Rildo Hora, o saxofonista Paulo Moura, Dona Ivone Lara e Elizeth Cardoso. Os anos seguintes sucederam projetos como o show “De samba e poesia”, em comemoração aos 40 anos de carreira. Nesse espetáculo Delcio apresentou 14 composições, 12 das quais inéditas em parceria com o poeta Mário Lago Filho; além de ter lançado dois projetos: o primeiro em 2006, intitulado “Profissão compositor” e o segundo, produzido por Paulão Sete Cordas e Mariozinho Lago, trata-se de “Delcio - Inédito e eterno”, um projeto que abrange três discos com cerca de 40 faixas lançados em 2007. Sem contar com 0 álbum que resultou esta pauta.
Já o segundo nome trata-se do também carioca Marcelo Guima, violonista e compositor que teve a sua iniciação musical em Brasília, estado onde foi morar ainda criança. Foi na capital federal que Guima obteve o bacharelado em violão pelo Departamento de Música da Universidade de Brasília e teve a oportunidade ao longo de quatro anos ser professor da Escola de Música de Brasília - EMB, uma das maiores instituições públicas de ensino musical de nível técnico da América Latina. Como instrumentista vem escrevendo seu nome dentro da música brasileira defendendo-a em concertos tanto no Brasil quanto no exterior, mostrando a sonoridade de seu violão em países como México, Cuba, Alemanha, Guatemala, Panamá entre outros. Há de lembrar também que ao longo desses anos o instrumentista e compositor vem atuando na produção e composição de trilhas sonoras para TV, documentários e cinema (longas e curtas metragens). Essas incursões nos meios de comunicação renderam-lhe a apresentação e produção de dois programas de rádio: “Ouvindo Música” na Rádio MEC AM do Rio de Janeiro, com quase uma década em exibição e que traz como proposta um estilo didático usando como matéria-prima a Música Popular Brasileira para orientar o ouvinte a entender de forma mais prática os diversos aspectos da música; veiculado desde 2004, o segundo programa trata do “Arte Petrobras” na rádio MPB FM também no Rio e que tem como proposta a divulgação de artistas e projetos patrocinados pela Petrobras, servindo também como uma vitrine da cultura produzida em todo o país. Quanto a sua discografia, Marcelo Guima tem álbuns como “Nova Mente" (disco de estreia do artista lançado em 1994); "Passagem", álbum que chegou ao mercado no ano de 2000 e que traz releituras instrumentais de sucessos de nossa música popular brasileira, além de diversos projetos como, por exemplo, o disco “Pesquisa Musical Brasileira”, trabalho em parceria com o Ministério da Cultura, onde apresenta composições próprias utilizando como base ritmos originários do Brasil.
Com todo esse “Know-how” não é de se estranhar que a junção desses dois nomes resultasse em coisas boas como podemos atestar em “2 compassos”, álbum viabilizado pelo projeto de financiamento coletivo “Catarse” e que teve a sua estreia em show na capital San Salvador (El Salvador) a convite do Centro Cultural Brasil-El Salvador da Embaixada do Brasil. Nesta parceria juntam toda a experiência e talento para interpretações de cunho pessoal e intransferíveis a treze faixas entre inéditas e regravações. Dentre as que saíram do forno para este projeto encontramos “Deixar estar” e “Luar” (composição da dupla Delcio e Guima), “Vestido novo" (Guima e Ronaldo Monteiro), “O amor da gente” (Marcelo Guima). Quanto as releituras há canções como “Velha cicatriz” (Delcio e Ivor Lancelotti), “Sonho meu”, “Alvorecer” e “Minha verdade” todas compostas por Delcio Carvalho em parceria com Dona Ivone Lara. Da lavra de Guima ainda há as faixas “O amor da gente”, “Lembranças suas”, “Jamais”, “Amarelo, preto ou branco” e “Longe do mar”, parceria com Paulo César Pinheiro.Além de Delcio Carvalho e Marcelo Guima, ainda perfazem o álbum nomes como Arthur Maia (arranjos, percussão e baixolão), Alencar 7 cordas (arranjos), Toiniho Ferragutti e Chico Chagas (acordeon), Marcos Suzano, Durval Pereira e Marco Zama (percussões), Sérgio Chiavazzoli (bandolim, violões), André Vascconcellos e Nema Antunes (baixo), Carlinhos 7 cordas (violão de 7 cordas), Leandro Braga e Marco Brito (pianos e teclados), Téo Lima (bateria), Thiago da Serrinha (cavaquinho), Pedro Mamede (programação eletrônica e percussão), Ricardo Amado (violino) e Fabiano Sagalote (trombone). 
No último dia 12 de novembro o mundo do samba privou-se da presença física de Delcio, que veio a falecer em decorrência de um câncer no aparelho digestivo deixando uma obra que por si só já é eterna e digna de todas as reverências possíveis e imagináveis. Delcio Carvalho hoje de divino compositor não só pela condição que se encontra, mas por ter tido a oportunidade de emoldurar na parede da memória de muitos toda a poesia e lirismo em forma de samba, um ritmo que por si só embriaga àqueles que sabem sorver de modo preciso aquilo que ele oferece. Esse encontro com Marcelo Guima atesta isso. Seu último registro fonográfico mostra-se detentor de um vigor pleno e insolúvel que substancia toda lembrança deixada por Delcio em versos e melodias escritas e eternizadas em quase meio século dedicado a música. Valeu Poeta! Sua obra, sem sombra de dúvidas, é o legado maior que você poderia deixar. De modo perene seus versos e melodias habitarão gerações e gerações que procurarem se substanciar de um samba bem feito.
Ficam aqui duas canções presentes neste projeto acabou sendo o último do Delcio. A primeira faixa trata-se de "Acreditar", clássico do música brasileira composto por Delcio e Dona Ivone Lara gravada por diversos nomes da MPB:
A segunda faixa é outro clássico da MPB em parceria também com Dona Ivone Lara. Trata-se da canção "Sonho Meu":

quinta-feira, 24 de julho de 2014

CLÓVIS CAMPÊLO

REMINISCÊNCIAS E HISTÓRIAS JULIANAS

Clóvis Campêlo

Para mim, o mês de julho começa no dia 3, com o aniversário do meu neto Pedro. No dia 29, nasceu seu Clóvis, meu pai. Entre as duas datas natalícias, ainda comemoro no dia 5 o aniversário de dona Carmelita, a minha avó materna, e dos meus tios maternos Maurício e Luiz, nos dias 11 e 15, respectivamente,

Foi no dia 20 de julho de 1969, aliás, que a missão Apollo 11 pousou na lua. Os astronautas americanos Neil Amstrong e Edwin Aldrin, tornaram-se, assim, os primeiros seres humanos a pisar no solo lunar. Na noite desse acontecimento, eu participava de uma semana de arte popular organizada pelo grupo Juventude Unida de Brasília e Pina (Jubrapi), no salão de festas da paróquia de Brasília Teimosa. Foi uma noite de apresentações dos grupos de samba e maracatus do bairro, além de uma exposição de artistas plásticos e poetas populares. Engana-se quem pensa que o povo não tem uma cultura sólida e ancestral.

Curti tudo isso na companhia do meu amigo Valmir Sá e de Gracita Salgueiro, uma garota encantadora que estava na minha alça de mira havia tempos e que morava na mesma rua em que eu morava. Começamos a namorar naquela mesma noite. Juntos, assistimos o baticum dos maracatus e dos sambas suburbanos, vimos na pequena televisão em preto e branco o noticiário sobre a conquista da lua, e depois nos beijamos no portão da sua casa. Parafraseando o outro Amstrong, o Louis do piston, eu cantarolava “What a Wonderful World”!

Composta em 1967 por Bob Thiele e George David Weiss especialmente para Amostrong, a canção fala nas coisas simples do dia a dia e na esperança de um futuro melhor e mais promissor para a espécie humana. Ainda havia muito a ser aprendido por nós, adolescentes, e, portanto, a música vinha a calhar naquele momento histórico e pessoal.

Amstrong

Amstrong, o músico, por sinal, faleceria em Nova Iorque, no dia 6 de julho de 1971, quatro anos apenas após ter gravado a música acima.

O mês de julho também, dentro da tradição da Igreja Católica, é devotado ao Preciosíssimo Sangue de Cristo, em reverência ao sangue de Jesus derramado na cruz. Consta que, em 1848, o Papa Pio IX foi expulso de Roma pelas forças revolucionárias. No ano seguinte, os exércitos franceses permitiram-lhe voltar à Cidade Eterna, após um ataque que durou de 28 de Junho a 1 de Julho. Invocando e dando graças pelo sangue derramado por Jesus por amor aos homens de todos os tempos, o Sumo Pontífice criou esta festa, situando-a no dia em que lhe foi possível voltar a Roma. O Papa seguinte, Pio X, estendeu a festa à Igreja Universal. Nos nossos dias, quase esquecida, a festa é celebrada solenemente em algumas congregações religiosas.

Em julho, nós recifenses, reverenciamos Nossa Senhora do Carmo, a padroeira da cidade, cuja festa comemora-se no dia 16. Julho também é o mês de San'Ana, a mãe de Maria, com festa no dia 26.


Recife, 2014

quarta-feira, 23 de julho de 2014

COISAS DA VIDA...

O LAVADOR DE CARROS


(Por Violante Pimentel) José era lavador de carros. Muito conversador, gostava de se mostrar um homem correto e sem vícios.

Entre os carros que costumava lavar semanalmente, estava a Parati de um representante comercial de meia idade, cujo escritório ficava nas proximidades do ponto onde eram feitas as lavagens.

José não parava de falar e sempre puxava assunto com os fregueses, enquanto estes aguardavam que ele terminasse as lavagens. Num certo dia, enquanto terminava de enxugar o carro do seu mais assíduo freguês, o representante comercial, o lavador resolveu lhe contar sua vida, e assim falou:

- O senhor sabia que eu já fui cego?

Surpreso e penalizado, o dono do carro perguntou:

- E como conseguiu se curar?

O lavador respondeu:

- É o seguinte, doutor: Existe o cego de nascença e o que ficou cego depois que nasceu. Mas também existe o cego por necessidade, que fica bom na hora que quer, sem precisar de médico. E eu já fui cego por necessidade. Comecei minha carreira na porta da Igreja. Ganhei tanto dinheiro de esmola, que deu para eu juntar e comprar um quartinho pra morar. O povo tinha muita pena de mim.

O dono do carro, curioso, perguntou:

-Foi seu primeiro trabalho?

- Não! - respondeu o lavador - Antes de ser cego, eu fui perneta... Usava uma perna de pau dentro de uma calça folgada, e recebia muita esmola. Mas um dia, apareceu uma autoridade policial aqui na cidade, querendo endireitar o Brasil, e mandou tirar todos os mendigos das ruas. Foi uma verdadeira caça aos mendigos. Uma grande perseguição.Numa manhã, eu estava sentado na calçada da Igreja pedindo esmolas, quando a viatura da Polícia parou. Correu mendigo pra todo lado. Minha perna de pau me atrapalhou e eu não pude correr. Então, eu fui levado para o xadrez. Fiquei preso dois dias. Depois que me soltaram, senti muito desgosto e resolvi mudar de profissão. A perseguição aos mendigos acabou logo, e a quantidade de pessoas nas ruas, pedindo esmolas, aumentou ainda mais. Depois de pensar muito, resolvi ser cego, por necessidade. Treinei um mês em casa, usando uma venda nos olhos de dia e de noite. Dei “show” como cego. Podia haver a maior zoada perto de mim, que eu nem sequer me virava pra olhar. Uma vez, presenciei um desastre grande, quando um caminhão, carregado de bebida, bateu numa caminhonete e virou. Foi garrafa quebrada pra todo lado. O barulho foi enorme, mas eu nem me mexi.  Andava com um cajado velho que tirei do lixo de uma casa rica...

Irônico e curioso, o homem indagou:

- E por que você abandonou a carreira de cego?

- Por causa da concorrência. - respondeu o lavador. - Quando eu comecei a me passar por cego, o povo se comovia e me dava esmolas. Depois, apareceram mulheres com crianças desnutridas, alugadas, para pedir esmolas na porta da Igreja, onde era o meu ponto. As pessoas passaram a se comover mais com as mães de araque do que comigo. Fiquei na pior, pois as esmolas diminuíram muito. E a quantidade de mendigos, na porta da Igreja, aumentou ainda mais. Aí eu vi que ser cego não tinha mais futuro... Tinha mais gente pedindo do que dando esmolas.

E foi por causa disso que eu resolvi ser lavador de carros...




Violante Pimentel é procuradora aposentada do Estado do Rio Grande do Norte.



terça-feira, 22 de julho de 2014

NÚBIA NONATO

Núbia Nonato
NÚBIA NONATO


TRAVESSIA

Conte-me sobre o teu dia,
te ouvirei atentamente
prendendo a respiração
a cada pausa, para que
não te sintas só.

Mostre-me onde dói,
acariciarei tuas feridas
com o toque suave
de meus lábios, que mais
te parecerá um afago.

Pressinto um aperto
em teu coração, peço-te
que respires fundo e
embora não seja muito,
conta comigo.

A noite nos alcança
estremeces...
te envolvo num abraço
terno, mas se quiseres
estarei contigo pela manhã.

Ciente de que a travessia
é tua.
Guarde-me em tuas lembranças,
somente elas sobrevivem
ao tempo.



IMAGENS: CLÓVIS CAMPÊLO

O SALTO
Jaboatão dos Guararapes/PE, fevereiro 2013

Fotografias de Clóvis Campêlo






Visitem os blogs do Tio Clóvis:





sábado, 19 de julho de 2014

NÚBIA NONATO

CIRCO

www.pjf.mg.gov.br

Finalmente... desarmaram todo o circo,
os palhaços com suas carantonhas
pendem os braços numa inércia de doer,
realidade é o que lhes resta.
Seguir em frente, mais do que um vaticínio,
é uma sentença.

Núbia Nonato
NÚBIA NONATO

CLÓVIS CAMPÊLO

IMAGINAÇÃO


 


Numa atitude de coragem,
atirei no presidente
(na vitrola, Bob Marley
atirava no xerife).

Neste sangrento cenário,
entre heróis e patifes,
as balas do imaginário
alimentavam meu rifle.

Como você mesmo sabe,
não sou malandro malvado
e, como Kid Morengueira,
hoje estou regenerado.

Porém, se a autoridade
declina do seu papel
de acabar com a impunidade,
mando-lhe pro beleléu.

E não tenho piedade
dessa gente sem moral
pois o povo brasileiro
merece um grande final.

Acordei sobressaltado,
findando a revolução
pois o combate travado
fora na imaginação.

(Recife, 1995)


CLÓVIS CAMPÊLO

sexta-feira, 18 de julho de 2014

TCHAU, JOÃO

unidosporanalandia.blogspot.com

Quem lê o título acima pode imaginar duas bobagens: (1) que João volta logo; (2) que João e eu éramos amigos. Lamentavelmente, João se foi para sempre, como qualquer um de nós um dia irá. Mas, ao contrário da esmagadora maioria de nós, João viverá para sempre. Não a pessoa física de João, mas a pessoa jurídica, perdão, literária, intelectual de João. O corpo vai, a obra fica. É da vida. Como é da vida, plebeus, como tantos outros e eu, sentirem-se íntimos de quem nunca viram. Mas que aprenderam a respeitar, admirar, a querer bem. Profundamente. Para todo o sempre, como se para o todo o sempre fosse possível.

***

Aproveitei a insônia renitente, para reler, ao longo da semana, alguns livros de que gosto. Fui de Carlos Heitor Cony. Reli com prazer e admiração, pela ordem: “Quase memória – quase romance”, “O indigitado” e “Romance sem palavras”. Baita prazer. Como escreve bem, o danado do Cony!

***

Na quinta, final de tarde, fui ao nosso depósito, no segundo subsolo do prédio, atrás de outros livros do Cony.  Abri caixas e caixas, não encontrei “Pessach”, mas achei “A casa do poeta trágico”.

Fiquei puto: cadê “Pessach”? Teriam me roubado na mudança, três anos atrás? A ira foi perdendo força, aos poucos. Na medida em que eu, já de saco cheio de procurar em vão, reencontrava, não pela ordem, “Setembro não faz sentido”, “O sorriso do Lagarto”, “Sargento Getúlio”, “Política” e vários outros escritos por ele, João.

Optei por dar certa ordem na bagunça, deixar à vista os que me interessavam no curto prazo. Trouxe para o quarto andar alguns livros e “O conselheiro também come”, dele: João. Próximo passo: reler todos os seus livros que já li. Segundo passo: comprar os que me faltam. Na madrugada, abati mais um Cony.

***
Mario Alberto


De manhã, logo cedo, muito cedo, apesar da madrugada insone, já estava de pé. E o mundo e eu ficamos sabendo que João morreu. Paciência. Não vou mudar meus planos. Vou reler seus livros com alegria.

Obrigado, João.

Gente como você, João Ubaldo Ribeiro, não morre jamais.

Muda de bairro.