quinta-feira, 28 de novembro de 2013

NÚBIA NONATO

FISSURA 




Vancleysson sabia a hora certa em que Renilce acordava. A hora em que ela lavava as roupas, em que cozinhava o feijão e a hora que ele mais gostava e que fazia a sua alegria de voyeur, a hora em que ela tomava banho de sol na laje.

-Ela iá! Dizia ele estalando a língua.

Sua musa não era uma sumidade em beleza, mas tinha o que para ele era a coisa mais bela em uma mulher, ancas grandes e um traseiro generoso.

Esse era o grande sonho de consumo de Vancleysson, ser o titular daquele belo traseiro. E, assim, ele consumia todos os minutos de sua vida, sonhando em um dia possuí-la.

Alguns anos se passaram e Vancleysson definhava a olhos vistos tamanha era a sua fissura por Renilce.
Em um domingo, enquanto  os homens batiam a laje da vizinha, o companheiro de Renilce perdeu o equilíbrio e despencou batendo as botas logo em seguida.

Os amigos de Vancleysson sabedores da sua paixão trataram logo de unir os dois.

Na grande noite tão sonhada e idealizada ele cochichou-lhe aos ouvidos, o rosto de sua doce Renilce desapareceu por alguns segundos depois de levar um jeb de esquerda. Mas Vancleysson era pior do que "pau de dar em doido" e aos poucos foi se acostumando com os socos de sua amada.

Em uma noite depois do milionésimo pedido  Renilce não lhe bateu, pelo contrário, disposta a experimentar pediu apenas que ele apagasse a luz.

Cidoca, a vizinha do lado, acordou apavorada com a gritaria na madrugada.

Vancleysson, que havia engordado um pouco, voltou a secar.

Renilce cochichava em seu ouvido todas as noites, o infeliz, cansado, bem que tentava declinar, mas ela levantava os punhos e as luzes se apagavam.

A vizinha do lado?

Está alugando o seu puxadinho.


Um comentário:

  1. Jorge Macedo escreveu: Parabéns, Núbia ! Uma crônica excitante e imprevisível e com um título bastante sugestivo!

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