FISSURA
Vancleysson sabia a hora certa em
que Renilce acordava. A hora em que ela lavava as roupas, em que cozinhava o
feijão e a hora que ele mais gostava e que fazia a sua alegria de voyeur, a
hora em que ela tomava banho de sol na laje.
-Ela iá! Dizia ele estalando a
língua.
Sua musa não era uma sumidade em
beleza, mas tinha o que para ele era a coisa mais bela em uma mulher, ancas
grandes e um traseiro generoso.
Esse era o grande sonho de
consumo de Vancleysson, ser o titular daquele belo traseiro. E, assim, ele
consumia todos os minutos de sua vida, sonhando em um dia possuí-la.
Alguns anos se passaram e
Vancleysson definhava a olhos vistos tamanha era a sua fissura por Renilce.
Em um domingo, enquanto os homens batiam a laje da vizinha, o
companheiro de Renilce perdeu o equilíbrio e despencou batendo as botas logo em
seguida.
Os amigos de Vancleysson
sabedores da sua paixão trataram logo de unir os dois.
Na grande noite tão sonhada e
idealizada ele cochichou-lhe aos ouvidos, o rosto de sua doce Renilce
desapareceu por alguns segundos depois de levar um jeb de esquerda. Mas
Vancleysson era pior do que "pau de dar em doido" e aos poucos foi se
acostumando com os socos de sua amada.
Em uma noite depois do
milionésimo pedido Renilce não lhe
bateu, pelo contrário, disposta a experimentar pediu apenas que ele apagasse a
luz.
Cidoca, a vizinha do lado,
acordou apavorada com a gritaria na madrugada.
Vancleysson, que havia engordado
um pouco, voltou a secar.
Renilce cochichava em seu ouvido
todas as noites, o infeliz, cansado, bem que tentava declinar, mas ela
levantava os punhos e as luzes se apagavam.
A vizinha do lado?
Está alugando o seu puxadinho.
Jorge Macedo escreveu: Parabéns, Núbia ! Uma crônica excitante e imprevisível e com um título bastante sugestivo!
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