sexta-feira, 8 de novembro de 2013

ÚLTIMA FLOR DO LÁCIO

CENA 1

Sem tirar os olhos do computador, a colega perguntou ao colega ao lado, que também estava com os olhos grudados no monitor:

-- É impretero ou impreiteiro?

-- Impreiteiro, com i depois do primeiro e.

-- Droga! Vou ter que corrigir esse documento. Escreveram empreiteiro. Haja saco. Fazem a coisa errada e depois a gente tem de corrigir. Custa perguntar, se não sabe? 

CENA 2

O chefe ignorante chegou, como chegava todos os dias – com pompas e circunstâncias e a falta de educação desde sempre cultivada. Foi logo informado do entrevero da véspera. Disparou um e-mail para o gerente:

-- O que ouve?

Puta velha, o gerente tripudiou da ignorância arrogante:

-- Não ouço nada.

CENA 3

E a disputa acirrada, quase irracional, do bilhar extrapolou: atropelou a gramática, ferrou a regência, jogou o pai dos burros no lixo.

-- Animal, analfabeto: não se fala “nóis fumo”; o certo é “nóis fomo”. Tô errado, doutor? – quis saber o mais ignorante e grandalhão dele, do intelectual da redondeza, único que fazia todos os dias palavras cruzadas na Vila Invernada. Quase sábio.

-- Os dois estão certos. A língua é um ente dinâmico, se me entendem. Os dois estão certos.

O cruzadista mais não disse. E pegou o caminho da roça. Homem prudente.




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