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Eu nem tinha me dado conta – com a graça de Deus. Dezembro chegou –
apesar da graça de Deus. Dezembro é o mês mais chato de todos, com o perdão de Nosso
Senhor Jesus Cristo, que, a exemplo deste escriba, nasceu no décimo segundo mês
do ano. Mamãe diria que a relevância de tal fato não há de ser obra do acaso.
Adiante.
Dezembro deveria ser mês de reflexão, carinho, solidariedade, amor
cristão. Não é. Não é mesmo. É o mês do assalto a mão desarmada. É o mês do
achaque. Você não tem para onde fugir. Bote reparo.
Se você mora em casa, está ferrado. Os caras que medem a luz, o gás e a
água não lhe dão um segundo de paz. Querem porque querem uma caixinha. O sujeito
dos Correios, embora só lhe traga más notícias ao longo de uma vida, empina o
nariz e exige o seu. Garis vem em bandos, uma turma por dia. Nem se dão ao luxo
de revezar com aqueles que, uma vez por ano, batem enxada na calçada para
eliminar o mato malsão. Que voltará a ser cortado em dezembro vindouro. Com
certeza. E com caixinha.
Se você mora em apartamento, vai se ferrar do mesmo jeito. Faxineiros,
porteiros, zelador... Mal cumpriram sua obrigação, têm salário em dia, férias e
tudo o mais (se é pouco, não temos culpa), mas... Sem caixinha – uma forma de
propina light –, este país vagabundo não anda. Ninguém sabe o dia de amanhã. O
portão da garagem pode cair sem querer querendo em cima de seu carro. Acidentes
acontecem.
Não importa onde você mora. Na padaria, no açougue, na barbearia, há e
haverá sempre uma caixinha pedindo caixinha. Não é tudo. Você pagará o dobro, na
melhor das hipóteses, por um cacho de uvas, uma fatia de panetone, um naco de
pernil estorricado. O décimo terceiro cobre 10% da lambança. Se tanto. O
desfalque financeiro é certo.
E eu que só queria tomar “uma” depois da Missa do Galo...
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