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Papai Noel – qualquer criança de hoje sabe disso – não existe, mas o
“amigo oculto” existe, sim. Está presente nas firmas, nas famílias, nos bares e
becos. É uma lástima. Muda o cenário, mas a desgraça é a mesma. De lá ou de cá,
o “amigo oculto” não arreda pé. Ser um deles não é coisa pra qualquer um. Sem
uma dose generosa de tolice ninguém chega lá.
A desgraça começa no sorteio, mas nele não termina. Noventa por cento
odeia o “amigo” sorteado. “Ferrou”, diz o filho do meio, em casa, antes de
pedir para que a mãe (ou o pai, ou um dos irmãos) assuma o mico: “Porra,
Paulinho não dá”. Troca feita, quase tudo acertado, chega-se à segunda etapa:
“O que comprar para baleia da tia Madalena, com dez reais”? Nada que preste, evidentemente. “Mas ela
também não merece nada que preste”, argumenta a mãe pacificadora. O pai não se
faz de rogado: “Filho: tua tia é uma vaca. É capaz de lhe dar uma cueca usada. Não
esquenta”.
Eis que chega o grande dia, hora de trocar presentes, de mostrar o
amor que une a família.
A gorducha toma a palavra, em tom de suspense:
-- Meu amigo oculto é... Gorduchinho. Bonitinho. Amor de criatura.
As dicas são inservíveis. Ali, todo mundo é gordo. Beleza é coisa
relativa. Amor de criatura não quer dizer nada. Mas o gordo mórbido acertou na
mosca:
-- Sou eu.
Era.
E lá foi ele cumprir seu duro dever:
-- Meu amigo oculto é...
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