A DOR DE UMA SAUDADE
Talvez a vida não nos seja
mais do que uma doce ilusão. Existimos, pensamos e logo tentamos justificar a
nossa maneira de viver e de agir. Subjetivamos e desenvolvemos ou nos apossamos
de conceitos que servem para nos acalmar os ânimos, nos momentos de maior
tensão, ou para servir de item identificatório com quem nos cerca e nos rodeia.
Nenhum homem é uma ilha. A solidão é devastadora. Estamos todos no mesmo barco
e precisamos alimentar a ideia de que vivemos em uníssono uns com os outros e
de que não existiria outro caminho plausível ou justificável dentro da nossa
síntese ética (se é que a temos!) ou que aplaque as nossas indagações e
ansiedades.
Assim sendo, o futuro
sempre nos será uma incógnita e um desafio. Uma página em branco, onde a
composição final vai depender da habilidade e da capacidade em nos superarmos e
criar novas propostas e situações. Não é a toa, portanto, que tendemos a
repetir experiências coletivamente aceitas e bem sucedidas. Se a maioria diz ou
fez assim, isso pode nos ser uma garantia de segurança e sucesso. Pra que nos
arriscarmos em vão?
O grande problema, porém,
surge quando essa sucessão de atitudes supostamente segura e confiável, passa a
se mostrar inadequada ou desdobra-se em consequências inesperadas e
assustadoras. Quantas crenças e práticas foram abandonadas pela humanidade, ao
longo do tempo, por se mostrarem inúteis ou ofensivas quando inicialmente
pareciam dignas de confiança? As marcas e cicatrizes que ficam, em consequência
disso, são sempre aterrorizantes e definitivas. Diante da tragédia definida, geralmente,
só nos resta a resignação, o consolo e um novo aprendizado no sentido de não
mais se repetir o equívoco. O homem que pensa e tem a capacidade de imaginar
novos mundos e situações, é o mesmo que se deixa enganar por análises
equivocadas e traiçoeiras.
Exercitar a individualidade
e a autonomia, portanto, não é fácil para ninguém. Não só pelo risco que a
novidade sempre traz em seu bojo, como também pelos sistemas regulatórios
criados e mantidos, nítidos ou subjacentes, no imaginário e nas crenças da maioria.
Toda diferença poderá ser castigada. Ou mantida em quarentena até que se mostre
útil e rentável ao sistema dominante e predominante. A ousadia nunca não será
feita para a covardia da maioria.
Admito até mesmo que talvez
nada valha a pena, mesmo que a alma não seja pequena. Aliás, chega-se a um
determinado ponto em que fica difícil até mesmo se fazer novos dimensionamentos
ou distinguir o caminho mais novo e adequado.
Talvez a vida não seja
mesmo mais do que uma doce ilusão. Existimos e pensamos, mas, mais cedo ou mais
tarde, desaguaremos sempre na foz do mesmo rio, no mesmo delta, nas mesmas
águas turvas, temerosas e desconhecidas.
Navegar será mesmo preciso?
Recife, 2013
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