terça-feira, 5 de novembro de 2013

ALI, EU NÃO PISO MAIS

Se há coisa que aprendi a respeitar na vida é a decepção alheia. Decepção não escolhe idade nem motivo. Decepção é sempre dolorida para quem a sofre. Rejeito de pronto essa conversa mole de que a minha decepção é a maior que a sua ou vice-versa. Imagino, por exemplo, que seja motivo de decepção medonha o sujeito juntar durante anos suas economias, troco por troco, gastar os olhos lendo guias turísticos, financiar a viagem em intermináveis prestações, ir a Roma... E não ver o Papa. Que lástima!

Felizmente, essa decepção eu não sofri. Nunca fui a Roma. E por uma razão muito simples: fiz e refiz as contas e concluí que era melhor ver mesmo o Papa pela tevê. Jamais juntaria os trocos necessários para tal empreendimento. Até porque o gasto é medonho. É passagem. É estadia. É alimentação. E não é tudo: o sujeito tem que ir bem vestidinho, porque não tem cabimento se apresentar ao Papa em andrajos. Só alguém muito malcriado – e agnóstico ou ateu – faria algo assim.

Optamos sempre pelo sistema bate e volta. Quando possível – o que é raro –, encaramos um pernoite com direito ao café da manhã. Não deixa de ser uma maneira, forçada, de minimizar o risco de sofrer decepções. Mas nem sempre é possível evitá-las. Agora mesmo, sofremos um baque em nosso tour em Penedo. Não sou nem um pouco chegado a trilhas, muito menos a cavalgadas ou a banhos em cachoeiras acidentadas. Por isso, aceitei a ideia de visitar a “casa de verão” do Papai Noel – um dos atrativos do distrito, logo após as trilhas, as cavalgadas e os banhos em cachoeiras acidentadas.

Relutei, mas cedi à argumentação de minha conselheira: “Vir a Penedo e não ver o Papai Noel e sua casa é o mesmo que ir a Roma...” Muito bem. Lá fomos nós. E demos com as fuças na porta. A casa estava fechada, por um motivo triste:

“O Papai Noel está doente” – nos informou a balconista encarregada de vender os ingressos, com aquela falta de interesse típica de quem vende bilhete para que se possa entrar na casa de Papai Noel. “Não sei quando ele volta... Se é que volta”, arrematou.


Francamente, ela não poderia ter inventado uma desculpa melhor, do tipo “ele está cuidando das renas”, “o trenó quebrou” ou “foi vistoriar a fábrica de brinquedos”? Que decepção. Que falta de sensibilidade. De ilusão também se vive. Ou a balconista não sabe disso? (abril de 2013)

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