Se há coisa que aprendi a respeitar na vida é a
decepção alheia. Decepção não escolhe idade nem motivo. Decepção é sempre
dolorida para quem a sofre. Rejeito de pronto essa conversa mole de que a minha
decepção é a maior que a sua ou vice-versa. Imagino, por exemplo, que seja
motivo de decepção medonha o sujeito juntar durante anos suas economias, troco
por troco, gastar os olhos lendo guias turísticos, financiar a viagem em
intermináveis prestações, ir a Roma... E não ver o Papa. Que lástima!
Felizmente, essa decepção eu não sofri. Nunca fui a
Roma. E por uma razão muito simples: fiz e refiz as contas e concluí que era
melhor ver mesmo o Papa pela tevê. Jamais juntaria os trocos necessários para
tal empreendimento. Até porque o gasto é medonho. É passagem. É estadia. É
alimentação. E não é tudo: o sujeito tem que ir bem vestidinho, porque não tem
cabimento se apresentar ao Papa em andrajos. Só alguém muito malcriado – e
agnóstico ou ateu – faria algo assim.
Optamos sempre pelo sistema bate e volta. Quando
possível – o que é raro –, encaramos um pernoite com direito ao café da manhã.
Não deixa de ser uma maneira, forçada, de minimizar o risco de sofrer
decepções. Mas nem sempre é possível evitá-las. Agora mesmo, sofremos um baque
em nosso tour em Penedo. Não sou nem um pouco chegado a trilhas, muito menos a
cavalgadas ou a banhos em cachoeiras acidentadas. Por isso, aceitei a ideia de
visitar a “casa de verão” do Papai Noel – um dos atrativos do distrito, logo
após as trilhas, as cavalgadas e os banhos em cachoeiras acidentadas.
Relutei, mas cedi à argumentação de minha
conselheira: “Vir a Penedo e não ver o Papai Noel e sua casa é o mesmo que ir a
Roma...” Muito bem. Lá fomos nós. E demos com as fuças na porta. A casa estava
fechada, por um motivo triste:
“O Papai Noel está doente” – nos informou a
balconista encarregada de vender os ingressos, com aquela falta de interesse
típica de quem vende bilhete para que se possa entrar na casa de Papai Noel.
“Não sei quando ele volta... Se é que volta”, arrematou.
Francamente, ela não poderia ter inventado uma
desculpa melhor, do tipo “ele está cuidando das renas”, “o trenó quebrou” ou
“foi vistoriar a fábrica de brinquedos”? Que decepção. Que falta de
sensibilidade. De ilusão também se vive. Ou a balconista não sabe disso? (abril
de 2013)
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