quinta-feira, 16 de agosto de 2018

BEIÇOLA

Imagem: Armando Guerra

Noite gelada. O homem parou para comprar cigarros na padaria. E ele, como sempre, estava lá, com seu cachorro, companheiro inseparável de todos os segundos, sentado no degrau do sobrado vizinho – enrolado numa manta tão suja e puída quanto suas roupas. Todos o conheciam, e dele gostavam. Raramente, pedia alguma coisa a alguém. Naquela noite, Beiçola pediu um cigarro ao homem.

O homem entrou na padaria, tomou um trago, pediu ao rapaz da chapa que fizesse um bauru caprichado para viagem, comprou cigarros e fósforos. Voltou para o balcão, tomou mais um trago, noite fria demais, de trincar ossos.

-- Comprei um maço de cigarros e fósforos para você. Este lanche também é seu, coma. Está quentinho, vai-lhe fazer bem. Você precisa comer, não pode só beber, Beiçola.

Agradecido, Beiçola enfiou o maço de cigarros e a caixa de fósforos no bolso do casaco. Deu uma mordida no lanche, mastigou, mastigou, engoliu a pulso, só Deus sabe o quanto custou a Beiçola engolir aquilo:

-- Está muito gostoso, mas não consigo comer. Posso dar o restante para o cachorro? O senhor não me leva a mal, não se ofende? Ele tem mais fome que eu. 

-- Claro que não me incomodo. Faça o que achar melhor.

-- Muito obrigado. Vá com Deus.  

(OS - ATUALIZADO EM AGOSTO DE 2018)


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