FOTO: ARQUIVO GOOGLE |
O Velho Marinheiro, nosso Lobo do Mar, se fingia de morto. Por conveniência. Controlou a inquietação, não ousou caçar o bicho do pé imaginário – para não inibir a conversa entre a neta Irene e uma de suas melhores amigas, mulher com peitos miúdos e nádegas avantajadas. Afinal, o assunto – nádegas – lhe interessava desde sempre, desde os tempos em que passou a usar calça comprida e a enfrentar ondas das bravas e cabarés de quinta categoria. É dura, a vida no mar.
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Irene, bote reparo – disse a visitante, com certa pompa, como se enormidade
daquelas passasse despercebida. Da cintura pra cima, posso ser considerada mulher
magra. Uso sutiã 42. A desgraça é da cintura pra baixo, manequim 58. É um
trabalho danado para encontrar calça que me sirva.
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Fazer o quê? Cada uma é cada uma, amiga. Meu problema é outro: o tamanho dos
peitos. É muito peito pra pouca bunda – lamentou Irene.
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Meus quadris são muito largos – insistiu a visitante.
O
Lobo do Mar resolveu entrar na conversa:
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Perdão. Como é mesmo seu nome?
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Jurema.
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Bonito nome. Combina com a jovem, igualmente vistosa. Seu problema não é a largura
dos quadris. É a capa de gordura que envolve os danados. E dela a senhora não se
livra fácil, não. Aliás, nem deve. Está muito bem assim. Coisa dessas faz bem
às vistas e ao cérebro.
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O que é isso, vovô? Tenha santa paciência! – berrou a neta, à beira de um ataque
de nervos.
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Irene: seu avô – acho eu - só quis ser gentil - interveio, meio atônita, a visita.
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A gente não deve lutar contra a natureza. Irene, por exemplo, fez uma dieta das
bravas. Deu nisso. Emagreceu tanto que perdeu parte do encanto. Ficou com bunda
de coreana. Ou seja: com uma tábua de passar roupa nas costas. Agora, com
licença. Vou comprar cigarros. Até mais ver. Jurema: não jogue fora seu
principal atributo. (OS – Atualizado em setembro de 2018)
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