FOTOGRAFIA: ANTONIO FABIANO |
CONFIDÊNCIA DO
ITABIRANO
Alguns anos vivi em Itabira.
Principalmente nasci em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
Noventa por cento de ferro nas calçadas.
Oitenta por cento de ferro nas almas.
E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação.
A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,
vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem
horizontes.
E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,
é doce herança itabirana.
De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço:
[esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil;
este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;
este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;
este orgulho, esta cabeça baixa…
Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
Hoje sou funcionário público.
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói!
***
Carlos Drummond de Andrade (1902, Itabira, MG
– 1987, Rio de Janeiro, RJ) foi um poeta brasileiro. "No meio do caminho
tinha uma pedra / tinha uma pedra no meio do caminho". Este é um trecho de
uma das poesias de Drummond, que marcou o 2º Tempo do Modernismo no Brasil. Foi
um dos maiores poetas brasileiros do século XX. FONTE:
EBIOGRAFIA
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