Ilustração: StockFotos |
-- Chega de mentiras, Alceu. Basta! Entendeu? Não suporto mais essa
vida que levamos. Afinal, por que você se casou comigo?
-- Por interesse, Matilde, é que não foi. Muito pelo contrário.
-- Como assim? Não estou entendendo.
-- Quer saber?
-- Quero.
-- Melhor deixar pra lá, Matilde.
-- Não vou deixar pra lá coisa nenhuma. Quero saber, diga de uma vez.
-- Matilde: você sempre foi a mais feia das meninas, a mais pobre, a
mais obtusa...
Matilde esboçou um sorriso de satisfação e apostou todas suas fichas
num palpite furado:
-- Então, você se casou comigo por amor, não foi?
Alceu respirou fundo, resolveu mentir (amara Matilde, sim) e colocar
ponto final naquela história arrastada, pois de uns tempos pra cá só tinha
cabeça, coração e membros para Verinha, a cunhada mais nova, dona de bunda e
peitos fartos:
-- Não, Matilde. Casei por pena, pena de você.
-- Cretino. Só agora, depois de vinte anos e três filhos, você me
diz barbaridade dessas?
-- Você nunca me perguntou antes, Matilde. Não tenho culpa.
(ORLANDO SILVEIRA
– ATUALIZADO EM AGOSTO DE 2017)
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