A
conversa corria animada na mesa 5 do bar do Carneiro. Entre goles de cerveja e
uca, três fregueses contumazes, dos que marcam o ponto todos os dias, várias
vezes ao dia, faziam considerações sobre o abuso do álcool, motivados pelo
assunto da semana: a morte anunciada e mais que esperada de Talagada, um dos maiores
beberrões de Vila Invernada e região. Percebendo que a conversa iria longe,
Carneiro ofereceu aos três, gratuitamente, rodelas de tomate como tira-gosto.
Caprichou no sal, na esperança de forçar o consumo de cerveja. Não se
decepcionou.
Não
houve, apesar do alto consumo de bebidas, alterações, pela simples razão de que
todos concordavam com todos. De fato, quem não sabe beber não deve beber, que
dúvida? É preciso saber parar. Ali, por exemplo, nenhum dos três já fora visto
cambaleando pelas ruas do bairro. Isso era coisa para Talagada, que vivia
tocado. Agora, uma vez ou outra, pode acontecIa de o sujeito bambear, ossos do ofício,
acidente de percurso. Quem não sabe beber coloca à saúde em risco, cria
problemas com a família (que mulher gosta de ver o marido mamado?), prejudica a
carreira profissional, compromete os negócios etc. Isso sem contar os gastos,
claro. Os três eram, como se vê, não adeptos dos alertas estampados nas peças
publicitárias: “Beba com moderação” e “Se beber, não dirija”. Mas também nesse ponto
os amigos de copo e de cruz concordavam: “Moderação” é conceito vago e não são umas
canas a mais que vão derrubar ases do volante, como eles, três cobras criadas se achavam.
E
os colegas, depois de algumas penúltimas rodadas, se foram, convencidos de que
jamais terminariam como Talagada. Um deles tropeçou. Culpa da mulher do Carneiro.
Maldita mania de encerar o piso. (OS - março de 2017/ atualizado em agosto de 2018)
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