quarta-feira, 12 de setembro de 2018

QUASE HISTÓRIAS: E O TALAGADA SE FOI...


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A conversa corria animada na mesa 5 do bar do Carneiro. Entre goles de cerveja e uca, três fregueses contumazes, dos que marcam o ponto todos os dias, várias vezes ao dia, faziam considerações sobre o abuso do álcool, motivados pelo assunto da semana: a morte anunciada e mais que esperada de Talagada, um dos maiores beberrões de Vila Invernada e região. Percebendo que a conversa iria longe, Carneiro ofereceu aos três, gratuitamente, rodelas de tomate como tira-gosto. Caprichou no sal, na esperança de forçar o consumo de cerveja. Não se decepcionou.

Não houve, apesar do alto consumo de bebidas, alterações, pela simples razão de que todos concordavam com todos. De fato, quem não sabe beber não deve beber, que dúvida? É preciso saber parar. Ali, por exemplo, nenhum dos três já fora visto cambaleando pelas ruas do bairro. Isso era coisa para Talagada, que vivia tocado. Agora, uma vez ou outra, pode acontecIa de o sujeito bambear, ossos do ofício, acidente de percurso. Quem não sabe beber coloca à saúde em risco, cria problemas com a família (que mulher gosta de ver o marido mamado?), prejudica a carreira profissional, compromete os negócios etc. Isso sem contar os gastos, claro. Os três eram, como se vê, não adeptos dos alertas estampados nas peças publicitárias: “Beba com moderação” e “Se beber, não dirija”. Mas também nesse ponto os amigos de copo e de cruz concordavam: “Moderação” é conceito vago e não são umas canas a mais que vão derrubar ases do volante, como eles, três cobras criadas se achavam.

E os colegas, depois de algumas penúltimas rodadas, se foram, convencidos de que jamais terminariam como Talagada. Um deles tropeçou. Culpa da mulher do Carneiro. Maldita mania de encerar o piso.  (OS - março de 2017/ atualizado em agosto de 2018)



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