sexta-feira, 28 de setembro de 2018

PAPO FIRME: LEANDRO KARNAL

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Leandro Karnal, por Felipe Gabriel (IstotÉ)


NÃO PERCA TEMPO COM GENTE BABACA




Leandro Karnal é professor doutor na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), desde 1996. Graduado em História pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (RS) e doutor em História Social pela Universidade de São Paulo (USP). Possui pós-doutorados pela UNAM, México, e pelo CNRS de Paris. Sua formação cruza História Cultural, Antropologia e Filosofia. É autor de vários livros.



quinta-feira, 27 de setembro de 2018

A SEMANA É DE Carlos Drummond de Andrade (4)

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Foto: arquivo Google

CANÇÃO AMIGA

Eu preparo uma canção
Em que minha mãe se reconheça
Todas as mães se reconheçam
E que fale como dois olhos

Caminho por uma rua
Que passa em muitos países
Se não me veem, eu vejo
E saúdo velhos amigos

Eu distribuo um segredo
Como quem ama ou sorri
No jeito mais natural
Dois carinhos se procuram

Minha vida, nossas vidas
Formam um só diamante
Aprendi novas palavras
E tornei outras mais belas

Eu preparo uma canção
Que faça acordar os homens
E adormecer as crianças

***

OUÇA
CANÇÃO AMIGA,
MUSICADA POR MILTON NASCIMENTO


***


Carlos Drummond de Andrade (1902, Itabira, MG – 1987, Rio de Janeiro, RJ) foi um poeta brasileiro. "No meio do caminho tinha uma pedra / tinha uma pedra no meio do caminho". Este é um trecho de uma das poesias de Drummond, que marcou o 2º Tempo do Modernismo no Brasil. Foi um dos maiores poetas brasileiros do século XX. FONTE: EBIOGRAFIA

quarta-feira, 26 de setembro de 2018

A SEMANA É DE Carlos Drummond de Andrade (3)


Resultado de imagem para imagens E agora, José?


JOSÉ

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, Você?
Você que é sem nome,
que zomba dos outros,
Você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio, - e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse,
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja do galope,
você marcha, José!
José, para onde?

Carlos Drummond de Andrade



"JOSÉ" - Na interpretação de Paulo Autran 

***


Carlos Drummond de Andrade (1902, Itabira, MG – 1987, Rio de Janeiro, RJ) foi um poeta brasileiro. "No meio do caminho tinha uma pedra / tinha uma pedra no meio do caminho". Este é um trecho de uma das poesias de Drummond, que marcou o 2º Tempo do Modernismo no Brasil. Foi um dos maiores poetas brasileiros do século XX. FONTE: EBIOGRAFIA

PAPO FIRME: ARIANO SUASSUNA


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Ilustração: Depositphotos


Ariano Suassuna gosta mesmo é de gente doida - e explica o porquê.




***

Ariano Vilar Suassuna (16/06/1927, João Pessoa, Paraíba – 23/07/2014, Recife, Pernambuco) foi dramaturgo, romancista, ensaísta, poeta e professor. Na década de 70, fundou o Movimento Armorial, que tinha como objetivo utilizar a cultura popular para formar uma arte erudita. Suas peças mais conhecidas são “Auto da compadecida”, de 1957, e “O Santo e a Porca”, de 1964. Na Academia Brasileira de Letras, ocupou a cadeira número 32, cujo patrono é Araújo Porto Alegre.

terça-feira, 25 de setembro de 2018

A SEMANA É DE Carlos Drummond de Andrade (2)



 

ELEGIA



Trabalhas sem alegria para um mundo caduco,

onde as formas e as ações não encerram nenhum exemplo.

Praticas laboriosamente os gestos universais,

sentes calor e frio, falta de dinheiro, fome e desejo sexual.



Heróis enchem os parques da cidade em que te arrastas,

e preconizam a virtude, a renúncia, o sangue-frio, a concepção.

À noite, se neblina, abrem guardas chuvas de bronze

ou se recolhem aos volumes de sinistras bibliotecas.



Amas a noite pelo poder de aniquilamento que encerra

e sabes que, dormindo, os problemas te dispensam de morrer.

Mas o terrível despertar prova a existência da Grande Máquina

e te repõe, pequenino, em face de indecifráveis palmeiras.



Caminhas entre mortos e com eles conversas

sobre coisas do tempo futuro e negócios do espírito.

A literatura estragou tuas melhores horas de amor.

Ao telefone perdeste muito, muitíssimo tempo de semear.



Coração orgulhoso, tens pressa de confessar tua derrota

e adiar para outro século a felicidade coletiva.

Aceitas a chuva, a guerra, o desemprego e a injusta distribuição

porque não podes, sozinho, dinamitar a ilha de Manhattan.



( Carlos Drummond de Andrade )


***

Carlos Drummond de Andrade (1902, Itabira, MG – 1987, Rio de Janeiro, RJ) foi um poeta brasileiro. "No meio do caminho tinha uma pedra / tinha uma pedra no meio do caminho". Este é um trecho de uma das poesias de Drummond, que marcou o 2º Tempo do Modernismo no Brasil. Foi um dos maiores poetas brasileiros do século XX. FONTE: EBIOGRAFIA

E O AMOR SAIU PELA JANELA: CENA VII

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Ilustração: Stockfresh


- Terça-feira está chegando, Marli.

- E daí, João?

- A data não lhe diz nada, querida?

- Xi. Vem, não. Quando você fica derretido feito margarina na frigideira, está pensando em aprontar uma das suas.

- Mas essa terça é uma data especial, Marli.

- Sei. Terça é dia de limpar a casa, fazer almoço e jantar, lavar e passar roupa, o de sempre. Ah, é dia de feira também. Tem mais essa.

- Marli, faremos 40 anos de casados. Uma vida...

- Uma vida besta. Nos cinco primeiros anos, até que foi bom. Depois só eu sei. Não fossem os filhos...

- O que você faria?

- Ou picava a mula ou pulava de cabeça numa piscina sem água.

- Que horror, Marli.

- Não se faça de esquecido, João. Não é possível que você não se lembre de metade do que aprontou.

- Por que metade?

- Porque boa parte do tempo você viveu tocado.  

(ORLANDO SILVEIRA – ATUALIZADO EM AGOSTO DE 2018)

segunda-feira, 24 de setembro de 2018

PAPO FIRME: LUIZ FELIPE PONDÉ

Ilustração: sociedadeateista.com.br


POR QUE VIREI ATEU?




Luiz Felipe Pondé (1959, Recife) – filósofo, escritor e ensaísta, pós-doutorado em epistemologia pela Universidade de Tel Aviv – discute temas como comportamento, religião, ciência. É colunista da Folha de S. Paulo

A SEMANA É DE Carlos Drummond de Andrade (1)



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FOTOGRAFIA: ANTONIO FABIANO


CONFIDÊNCIA DO ITABIRANO



Alguns anos vivi em Itabira.

Principalmente nasci em Itabira.

Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.

Noventa por cento de ferro nas calçadas.

Oitenta por cento de ferro nas almas.

E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação.



A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,

vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem horizontes.



E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,

é doce herança itabirana.



De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço:

[esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil;

este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;

este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;

este orgulho, esta cabeça baixa…



Tive ouro, tive gado, tive fazendas.

Hoje sou funcionário público.

Itabira é apenas uma fotografia na parede.

Mas como dói!



***


Carlos Drummond de Andrade (1902, Itabira, MG – 1987, Rio de Janeiro, RJ) foi um poeta brasileiro. "No meio do caminho tinha uma pedra / tinha uma pedra no meio do caminho". Este é um trecho de uma das poesias de Drummond, que marcou o 2º Tempo do Modernismo no Brasil. Foi um dos maiores poetas brasileiros do século XX. FONTE: EBIOGRAFIA