quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

NÚBIA NONATO

DESPERTA!


Quando menina questionava-me sobre o vento, o sol, a lua.
Intrigavam-me as diferenças, umas gritantes outras disfarçadas
pelo véu da cordialidade.
Incomodavam-me certas afeições, entrelaçamentos.
O peito me pesava e eu menina, apenas chorava.
Cresci, a vida foi me empurrando e acomodei-me.
Guardava apenas nos olhos o peso de uma vida que
não me vestia bem, que não me calçava bem...
Rezava o Pai Nosso e dormia, não havia mais nada a
fazer.
Permissiva me contentei com migalhas, afinal há sempre
um leque de exemplos, espelhos mil.
O tempo tentava me dar tempo, levou minha mãe, obrigou-me
a conviver num mundo com lágrimas e um enorme buraco no peito.
Minha irmã adoeceu, senti a dor na alma e o medo de não poder estender-lhe
a mão, me sacudiu.
Acordei, redescobri no sofrimento a fome e a sede.
Descortinei um pesado véu, o do comodismo.
Olhei-me com criticidade,  despi-me da ignorância.
Sempre tive medo de seguir sozinha, sempre tive medo desse
despertar...
Ainda sigo só, pois a caminhada é única e as vezes dolorosa.
Como a menina que outrora fui, ainda questiono, mas aprendi a
ouvir as respostas.
Torço para que o despertar seja contagioso, pois a alegria de viver
apenas há de se completar na eternidade.



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