ENTREVISTA: SAMUEL CARNERO
Bruno Negromonte |
O contexto cosmopolita ao qual Samuel Carnero está inserido não
interferiu de modo algum em sua arte. Pelo contrário, talvez venha daí a
essência de seus versos e melodias. De família de músicos e poetas, o artista
foi protagonista aqui mesmo no Blog do Lando da pauta intitulada "A
CRÔNICA, A MÚSICA E A POESIA COSMOPOLITA DE SAMUEL CARNERO" e agora retorna
ao nosso espaço para esta entrevista exclusiva, onde nos fala, dentre outras
coisas, das reminiscências de infância, o modo como concilia sua condição de
poeta e cronista, seu álbum "Eu não posso parar", entre outras
informações interessantes. Carnero, que vem gravando seu mais recente EP, deu
uma pausa na gravação para nos conceder gentilmente esta entrevista exclusiva
conforme o público leitor pode averiguar abaixo. Boa leitura a todos!
Você é um artista que toda uma
genealogia que de certo modo o enveredou para a música. Quais as reminiscências
de infância mais marcantes dessa família tão musical?
Samuel Carnero - A arte
sempre esteve presente na Família Lopes (ascendência materna). Ainda morando em
São Paulo, na infância, me lembro da Vitrola Phillips 1983, onde eu e meu pai
Gérson cantávamos e brincávamos de entrevistas. Lembro também de minha mãe
Roseli ter me dado de presente uma cítara infantil, com algumas partituras.
Sempre tinha música tocando em casa, LP´s, K7´s e Rádio. De cantores nacionais
à internacionais. De Agepê à Chitãozinho & Xororó, de Erlon Chaves à We
Are The World – “USA for Africa”. Já morando em Parapuã – SP, aos 9 anos de
idade, eu sempre ia à casa de minha avó Maura, onde minhas tias cantavam,
tocavam piano, faziam piadas, recitais...até hoje elas fazem isso. São artistas
de alma. Compositoras, escritoras, artesãs, regente de coral e pianistas. Aos
12 anos mais ou menos peguei o violão de minha tia Nely e fui fazer aula no
conservatório da cidade.
Já que havia músicos e poetas
em sua família, em algum momento você se questionou em qual dessas veredas iria
seguir ou você desde o início procurou conciliar versos e melodias?
SC - Gosto muito de
escrever sobre qualquer assunto, mas antes de saber escrever, eu já cantava e
balbuciava palavras, por volta de 2 ou 3 anos de idade. A fusão letra / melodia
vem naturalmente em meu processo de composição. Quando consigo musicar uma
letra (crônica, poesia, homenagem...), fico muito feliz. Mas quando não tem
como, o texto então fica apenas como texto mesmo, em blogs. É gratificante
poder musicar um texto meu ou de alguém.
Você tem uma relação muito
íntima, enquanto cronista e poeta, com a questão da escrita. Como se dá o seu
processo de composição? Devido a essa condição de escritor é mais fácil a
elaboração das letras antes das melodias ou isso não é problema?
SC - O meu processo de
composição musical não segue uma regra ou sequência. Quando bate a inspiração,
eu crio a melodia ou a letra, ou as duas ao mesmo tempo. Tenho poesias que
demorei 2 anos para musicar, como tenho melodias ainda sem letras. Mas sempre
sinto que uma hora sai [risos].
Segundo sua biografia o início
do seu processo de composição se deu ainda na época da Escola de Engenharia a
cerca de 10 anos atrás. Deste álbum existe alguma desse período?
SC - Sim, da época da
faculdade existe LIRIOS, o reggae.
Atualmente você é colaborador
de alguns espaços literários com as suas crônicas e suas poesias. Locais como o
“Tribuna Escrita” e o “Beco dos poetas” têm publicações suas. Você pretende ou
já cogitou em algum momento juntar essa produção e publicar algo forma de
livro?
SC - Esses blogs são muito
legais. Tribuna Escrita é de um amigo baiano, o poeta Manoel Hélio, grande
pessoa! Já o Beco dos Poetas e Escritores é blog, sarau e editora literária,
dos queridos Márcio Marcelo e Maria Jeremias. Eu tenho poesias publicadas em
compêndios do “Beco”, de autores diversos. E sim, num futuro próximo pretendo
escrever livros. Só ainda não sei sobre os gêneros: poesia, espiritualidade,
sociedade, religião ou ciência. Ser eclético e universalista como eu às vezes
embola o meio de campo [risos].
Em que momento você decidiu que
deveria seguir carreira artística e começou a arquitetar o sonho da gravação do
seu primeiro disco?
SC - Desde pequeno eu gosto
das artes e de me expressar para o mundo, seja na forma falada, escrita, tocada
ou cantada. Foi o meio que encontrei para externar meus sentimentos. Sempre que
posso ou tenho oportunidade, me apresento artisticamente. A gravação de meu
primeiro disco se deu pois eu tinha mais ou menos 30 músicas gravadas em demos
caseiras e muito toscas no formato voz / violão. Então senti que estava na hora
de selecionar umas faixas e gravar em estúdio, com arranjos e banda.
O repertório do disco “Eu não
posso parar” é totalmente autoral não é isso? Como foi feita a seleção das onze
canções?
SC - Sim, é um disco
autoral, porém com três parcerias: “A Balada da Fejuca” é letra minha e de meu
amigo publicitário Samuel Segatelli e melodia minha. “Lirios” é letra minha e
de meu compadre Gustavo Sanches (Menudo) e melodia dele. “Ideal” e “Vitrine da
Alma” são crônicas do livro Compêndio da Imaginação (Editora AG Book) de minha
mãe Roseli Helena, onde tive a felicidade de musicá-los. A seleção de
repertório se deu à partir de feedback de meu público, do arranjador Ronaldo
Rayol e de meus gostos também. É um disco eclético, com vários estilos musicais
e histórias.
Não sei se estou enganado pois
não sou especialista em poesia, mas vejo que “Selva de cerveja” tem um jogo de
palavras que confere a canção um certo ar de poema abstrato. Como se deu o
processo de composição dessa canção especificamente? E a utilização do
neologismo tão recorrente nessa faixa?
SC - Selva de Cerveja é uma
das músicas mais loucas que tenho. Em 2005 eu e uns amigos saímos de Bauru – SP
rumo à Londrina – PR, para o casamento de um amigo. Desde as primeiras
cervejas, ainda em Bauru, até Londrina e depois por lá e na volta toda, todos
nós “cozidos” falávamos e conversávamos mais ou menos assim: “ow passa a breja,
vamos tomar mais uma bréja...me dá uma cerva...vamos tomar uma léuva, uma
melva...”. E quanto mais “altos” ficávamos, mais apelidos carinhosos saíam para
a cerveja. De volta à São Paulo (minha casa) escrevi o abecedário da cerveja,
que conta a nossa saga rumo ao Paraná, Selva de Cerveja. E foi realmente uma
selva [risos].
O artista independente nos dias
atuais tem o total domínio sob seus projetos, desde a notória facilidade para a
gravação até as questões mais burocráticas. A dificuldade que observo é quanto
a distribuição desse material depois de pronto. Para que tudo isso reverbere de
modo eficiente é preciso muito jogo de cintura para driblar os notórios jabás e
total interatividade com as redes sociais e ferramentas cibernéticas. Como você
trabalha esses dois aspectos?
SC - De fato é difícil ser
artista independente, principalmente pelo lado financeiro. Isso é minha
percepção. Queria muito ter um empresário, produtor ou patrocínios. Todos os
dias corro atrás disso. Não me importo em ter uma gravadora, mas queria apoio
para poder realizar mais e de uma forma mais eficiente e abrangente. Ser músico
é ter uma empresa. É necessário o financeiro, o administrativo, o marketing, a
logística e a equipe. Eu tive uns pequenos patrocínios para gravar o meu
primeiro disco. Divulguei-o em mídias sociais, players e YouTube. Também disponibilizei
download grátis e distribuí mil cópias físicas, promocionais. Acredito que
quanto mais pessoas baixarem, compartilharem e reproduzirem minhas músicas,
melhor a minha promoção e popularização. Ainda não estou na fase de visar
dinheiro com minha arte. Estou na fase da promoção, e feliz assim. A internet e
o corpo a corpo tem me ajudado muito. Fazer sucesso não é sinônimo de qualidade
artística. Eu sinto que todos tem o seu público e que há sim espaço para todos
no mercado. É uma questão de tempo, foco, força e fé. E talento é claro, pois
isso o perdurará no mercado. Outro meio de se “fazer sucesso” é um vídeo
“estourado” no YouTube, um produtor / investidor ver potencial em você ou quem
sabe depois de 15 anos na estrada você emplacar uma música. Conheço casos
assim. Não há uma receita para o sucesso, pois sucesso é uma coisa muito
pessoal. Cada um tem como meta o que é sucesso para si. Sucesso para mim é
poder acordar todos os dias e fazer o que ama, e amar o que faz, sem pensar em
dinheiro, pois dinheiro é consequência desse trabalho amoroso e bem feito.
Quais os projetos arquitetados
para este ano de 2014?
SC - Para 2014 pretendo
continuar fazendo que faço, só que com mais foco e mais força. Procurar mais e
mais lugares para me apresentar artisticamente, com foco no autoral, fazer mais
web clipes, compor / gravar novas músicas, escrever, blogar e dispender mais
tempo para os trabalhos sociais e voluntários, o que me deixa muito realizado
também. Obrigado pela entrevista!
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