DONA EDITH DO PRATO:
CINCO ANOS DE SAUDADES
Bruno Nagromonte http://www.musicariabrasil.blogspot.com.br/ |
Incluso na região metropolitana de Salvador, o Recôncavo baiano
abrange, além da capital do estado da Bahia, municípios como Santo Antônio de
Jesus, Candeias, São Francisco do Conde, entre outros como, por exemplo, Santo
Amaro da Purificação, que ficou nacionalmente conhecido por trazer entre seus
ilustres filhos nomes como Assis Valente, Caetano Veloso, Maria Bethânia entre
outros. Localizada em torno da Baía de Todos-os-Santos, confesso que meu
discernimento não alcança se há algo na região que propicia o desenvolvimento
desses talentos, no entanto é público e notório o propício desenvolvimento dos
samba-de-rodas (variante do tradicional ritmo brasileiro e que teve sua origem
no próprio estado da Bahia).
Uma das maiores representantes deste ritmo não só em Santo Amaro, mas
em todo o estado da Bahia foi Edith Oliveira Nogueira, que ficou mais conhecida
por Dona Edith do Prato. De modo despretensioso a dona de casa usava uma faca e
um prato como instrumentos de percussão cantando sambas-de-roda. Ninho
Nascimento, produtor musical e neto de criação de Dona Edith, sabe bem como foi
o início de tudo: "Ela começava a tirar os primeiros sons da metade de uma
cuia de queijo quando brincava de fazer comida no quintal de casa. Na adolescência,
tocava prato e assim descobriu um som diferente e foi aperfeiçoando. Para ela,
o prato tinha que ser de louça e o mais barato, e a faca de inox, sem cabo de
madeira. Não teve referência artística, mas um dom, que foi desenvolvendo aos
poucos. Ela nunca se imaginou artista."
Dona Edith subiu ao palco pela primeira vez na década de 1970 ao lado
do cantor e compositor Roberto Mendes, em Salvador, mas em 1969 já tinha o
toque do seu prato registrado na canção "Torno a repetir", um tema de
domínio público adaptado por Caetano. Quatro anos depois ela voltava para o
estúdio para participar do álbum Araçá Azul, também de Caetano Veloso. No álbum
ela canta uma adaptação de Veloso para tema de domínio público "Viola, Meu
Bem", além de dividir com ele os vocais em "Sugar Cane Fields Forever".
Amiga ao longo de décadas de Dona Canô, Edith acabou tornando-se
figura recorrente nos trabalhos dos filhos da matriarca dos Veloso. Em 1983
participou do álbum Ciclo de Maria Bethânia com a canção "Filosofia
Pura", de autoria de Roberto Mendes e Jorge Portugal. Em 1991, grava o
samba-de-roda "Boas vindas", canção composta por Caetano em homenagem
ao filho Zeca, recém-nascido.
Em 2002 Edith, grava o álbum Vozes da Purificação (único registro de
Edith e que posteriormente gerou um DVD), e que conta com a participação não só
dos Velosos (Bethânia e Caetano), mas também de nomes como Roque Ferreira,
Cortejo Afro, Mariene de Castro entre outros. O álbum é composto principalmente
por temas populares adaptados. As exceções são "How Beautiful Could A
Being Be", de autoria de Moreno Veloso (filho de Caetano) e o "Hino
De Nossa Senhora Da Purificação", composto por Domingos de Faria Machado,
compositor santoamarense.
Raspando a faca no prato de modo bastante peculiar Dona Edith soube
como poucos trazer consigo a típica sonoridade do Recôncavo, entoando seus
sambas de roda de modo bastante pessoal, tornando-se a partir daí, como certa
vez definiu Hermínio Bello de Carvalho, uma espécie de cartão postal sonoro da
Bahia.
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