-- Ananias, meu caro Ananias: gosto de você, muito embora eu o considere
um tolo. Homem de boa e boba fé. Crê em tudo que lhe dizem. Sua cabeça é um baú
de fantasias. Você é um homem romântico. E o que é um romântico? Um doente
incurável.
-- É que, Velho Marinheiro, eu sempre acreditei nas pessoas, apostei todas
minhas fichas no trabalho honesto, dedicado e – perdão pela arrogância que não
tenho, jamais tive – competente. Sempre acreditei na tal da meritocracia. Achei
que chegaria lá, pelo esforço. Fui sempre passado pra trás.
-- Porque essa é a regra do jogo: passar os outros pra trás, e os tolos,
como você, são presas fáceis. O serviço público é uma droga. A iniciativa
privada não é muito melhor, não. Aqui e
lá, há homens tocando a engrenagem, com a falta de caráter que caracteriza a
maioria. Ananias, a falta de caráter não é obra do acaso: é fruto da
incompetência, que gera inveja e toda sorte de mesquinharias.
-- E o que faço?
-- Ande. Esqueça o passado. Ele mais machuca que ensina.
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