O COMEÇO DE TUDO, AOS 13 (FOTO: ARQUIVO GOOGLE) |
GANHEI
O EMMY!
Lembrei
da primeira máquina de escrever que meus
pais
me deram, quando eu tinha 13 anos
POR WALCYR
CARRASCO
ÉPOCA
ON-LINE – 29/11/2016 - 08h00
Quando
minha novela Verdades secretas se
tornou uma das finalistas do Emmy, maior prêmio da televisão no mundo, já
comemorei. Ser finalista já é muito. Tenho expectativas sobre meu trabalho, mas
sou muito ligado às minhas origens de garoto de classe média baixa de São
Paulo. Acho importante homenagear as próprias raízes. Não venho de uma família
letrada, mas meus pais acreditaram em meu desejo de ser escritor. Para o garoto
do interior de São Paulo, apenas ser indicado para o Emmy já estava mais que
bom!
Parti,
com um grupo da Rede Globo, para Nova York. A decisão do Emmy passa por etapas.
Tanto no Oscar como no Emmy, seu equivalente na TV, a decisão é revelada na
hora. Os candidatos roem até as cutículas.
No
primeiro dia tivemos a cerimônia de entrega de medalhas aos finalistas. Recebi
a minha, já orgulhoso. Nos dois seguintes, painéis.
Painéis?
Cada uma das categorias participa de um debate, com um mediador, em que fala de
seu processo de criação e produção. Assim, de repente vi-me sentado do lado de
uma produtora filipina. Passaram o trailer da novela filipina e era ótima! Em
dois segundos dava o panorama da história inteira! O canadense nem se fala: um
menino de classe média encontra o avô, que se tornou sem-teto. Demais. Botei
minha emoção para fora.
–
Escrevi Verdades secretas com meu
coração. Foi uma entrega total não só minha, mas também do diretor Mauro
Mendonça Filho e sua equipe, de todo elenco. Eu sentia que era importante
contar essa história.
Isso
foi no domingo. A festa, só na segunda-feira. Tentei levantar informações de
bastidores. Não consegui. Ninguém tem acesso ao nome dos vencedores.
Honestidade absoluta.
Depois
desse processo de acúmulo de tensão, chegou a hora da festa. Black tie. Minha
camisa não fechava. A empresária Marcia Marbá, que acompanhava a atriz Grazi
Massafera, estava no apartamento ao lado. No instante de sair, corri para pedir
socorro. Como salvar meu colarinho? Ela prendeu com linha no lugar do botão e
pronto! Depois, botou a borboleta. Perfeito. Meu problema era como sair da
camisa depois. Melhor pensar após a premiação. Na festa, entramos numa fila. Os
nomes eram chamados um a um e percorríamos o tapete vermelho. Fiz algumas
fotos. Francamente, a maior parte dos repórteres internacionais não se
interessou por minha pessoa. Entramos, houve um longo coquetel. Depois, o
jantar, que eu achei mais demorado ainda. Já estava certo de ter perdido.
Melhor acabar logo com tudo.
Os
prêmios foram sendo anunciados sucessivamente. A certeza de que eu não ganharia
cresceu. Sinceramente, não acertava um! Telenovela foi um dos últimos. Passaram
os trailers mais uma vez, e novamente achei todas ótimas. Aí, falaram:
–
Hidden truths.
Que
é o nome de Verdades secretas em
inglês. Levantei pasmado, com um misto de sensações. “Eu ganhei? Eu ganhei?”,
pensava, sem acreditar. É estranho. Até então eu estava controlado, até blasé.
De repente, havia ganhado o maior prêmio de TV do mundo. O EMMY! Fui para o
palco. Minha sorte foi que os diretores Felipe Binder, Alan Fiterman e Natália
Grimber me acompanharam. E as atrizes Grazi Massafera, Camila Queiroz, Agatha
Moreira e Guilhermina Guinle. Todas lindas. O teatro só aplaudia. É uma
sensação incrível receber um troféu desses nas mãos! Pedi ao Lipe para
agradecer em meu nome. E, depois, só consegui dizer:
– I am very happy. Thank you! Thank
you.
WALCYR CARRASCO (FOTO: O GLOBO) |
Saímos
pela parte de trás do palco. Descemos uma escadinha e estávamos... numa enorme
cozinha industrial. Fizemos fotos, pulamos. Atravessei a cozinha e havia um
pequeno teatro, onde fui anunciado. Nunca vi tanto fotógrafo na minha vida,
tantas televisões do mundo inteiro. Era uma loucura! Essa parte durou muito
tempo. Depois, ainda teve uma festa do Emmy. Só quando cheguei a meu
apartamento no hotel pude parar. E caiu a ficha. Eu havia, sim, ganhado o Emmy!
Olhava para o troféu sem parar.
Sempre
tive muitos sonhos na vida, mas não tão grandes. Sabem, sinceramente, no que
pensei? Ah, a memória! Na primeira máquina de escrever que meus pais me deram,
quando eu tinha 13 anos. E no desejo que ainda estivessem neste planeta para
compartilhar o prêmio. Desde os 13 anos nunca mais parei de escrever. É o que
amo fazer na vida. Eu queria poder falar:
–
É graças a vocês!
Mas,
de alguma forma que nenhum de nós consegue entender exatamente, talvez eles
saibam disso, onde estiverem. Pai, mãe. Gratidão! A vocês, eu devo este Emmy.
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