quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

TATICO, O HUMILHADO


Quem diria? Quem diria? Depois de anos, Tatico, que nunca teve boca para falar mal de seu ninguém, homem que nunca disse palavrão na frente de mulheres, sujeito pra lá de recatado, tomou dois conhaques, empanturrou-se, dormiu um baita pesadelo de feijoada.  

Quem diria? Quem diria? O que não fazem dois conhaques? Na verdade, quatro. Escondido da mulher, Tatico tomara outros em casa. 

Tatico, que nunca fora disso, dormiu pelado, acordou pelado. Sono da tarde, sono pesado, sono de feijoada. Desatento, esqueceu que era dia da diarista. Rosinha na manicure, E pelado foi até a cozinha, ávido por um copo de água gelada. A diarista berrou:

-- Que diabo é isso? O senhor perdeu a vergonha, seu Tatico?

O conhaque fazia efeito, Tatico, sempre humilde, ficou valente, bateu de prima:

-- Vai me dizer que nunca viu nada menor que isso?

O tiro saiu pela culatra. A diarista foi implacável:

-- Não. não mesmo, seu Tatico. Ninguém é obrigada a ver uma porcaria dessas.

Tatico pediu à diarista que ela o desculpasse e pelo amor de Deus não dissesse nada à sua mulher. Afinal, o casamento deles vai de mal a pior. Antes de voltar para o quarto, Tatico entornou mais duas doses, reiterou o pedido de desculpas e fez com que ela jurasse que faria boca de siri. 

Ela prometeu silêncio absoluto, mas lhe deu um conselho:

-- Agora, vá logo para o quarto, sua mulher está chegando... Seu Tatico, o senhor precisa se cuidar, como é que vai se apresentar por aí com uma coisinha tão pequena?  (OS - maio/2015)


2 comentários:

  1. Bom demais!!!! Mas não sabe ela, que não importa o tamanho da varinha, o importante é a mágica que ela faz.

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