terça-feira, 7 de outubro de 2014

COISAS DA VIDA

A MÁQUINA DE FAZER DINHEIRO


(POR VIOLANTE PIMENTEL) Bajoso era um médio comerciante, muito correto, e incapaz de um ato desonesto.

Passou a vida inteira atrás do balcão de sua mercearia, trabalhando para o sustento da família. Não progredia, nem regredia financeiramente. Era do tipo de comerciante que nunca ficou rico, nem mais pobre do que sempre foi. De pouca instrução, Bajoso era respeitador, religioso, e se destacava pela sua integridade moral.

Nessa época, década de 50, Nova-Cruz era um atraso geral. Não tinha água encanada, energia elétrica, nem  agência bancária. A passagem do trem de Recife para Natal, ou de Natal para Recife, era uma festa. A estação ferroviária ficava cheia de gente, esperando o trem chegar. Era nesse trem que chegavam as revistas e jornais que eram vendidos na cidade.

Numa sexta-feira pela manhã, estava o velho Bajoso no balcão de sua mercearia, sozinho, quando entrou um viajante desconhecido, alto, elegante, educado e bem vestido. O homem, com uma conversa muito boa, chegou trazendo nas mãos uma caixa, contendo uma pequena máquina, que, segundo ele, fabricava dinheiro. A máquina estava à venda.

Antes que o velho comerciante dissesse qualquer coisa, o viajante colocou a “máquina de fazer dinheiro“ sobre o balcão, para fazer a demonstração do seu "modus operandi". Girou uma pequena manivela existente no precioso objeto, e de repente, como por milagre, por um dispositivo semelhante a esses que há nos atuais caixas eletrônicos, começou a sair dinheiro da máquina. Eram notas de cinco mil réis, dez mil réis e até de vinte mil réis. Isso deixou o velho comerciante abismado... Tratava-se, realmente, de um objeto precioso...

O viajante, com a sua lábia de vendedor ambulante, e sozinho com Bajoso, procurou convencê-lo a comprar a tal máquina. Seria uma aquisição valiosa...O preço cobrado era rasoavelmente barato, diante do custo-benefício que traria a qualquer comprador.

O comerciante Bajoso, homem de boa fé, não pensou duas vezes, e comprou a máquina de fazer dinheiro. O preço foi exatamente o apurado da semana, que ele guardava numa gaveta. Feito o negócio, o viajante foi direto para a estação ferroviária, tomou o trem das  onze horas, que ia para o Recife, e até hoje…

O velho comerciante fechou as portas da mercearia, para evitar os curiosos, e, com os olhos brilhando de emoção e ansiedade, colocou a máquina para funcionar. Queria recuperar o dinheiro que havia pago pela máquina. Seguiu à risca as instruções do viajante, mas só conseguiu que saíssem da máquina duas notas de cinco mil réis, e nada mais... Tentou diversas vezes, mas nada de sair dinheiro... Continuou tentando, e dinheiro que é bom, nada... Bajoso foi ficando desapontado, até que "caiu a ficha"...Entendeu que havia sido vítima de um vigarista. Indignado, o antigo comerciante se dirigiu, imediatamente, à Delegacia de Polícia da cidade, para prestar queixa contra o trapaceiro.

Chegando à Delegacia, Bajoso, visivelmente nervoso, contou ao Delegado o golpe de que fora vítima: Comprara uma máquina de fazer dinheiro, e a máquina só funcionou enquanto o vendedor ainda se encontrava na sua mercearia. Entregara ao viajante trapaceiro todo o dinheiro que tinha na gaveta, que era o apurado da semana toda...

Violante Pimentel
Violante Pimentel é procuradora aposentada
 do Estado do Rio Grande do Norte
Quase chorando, implorou ao Delegado que diligenciasse, para localizar e prender o larápio. O Delegado ouviu a narrativa do velho e respeitado comerciante, perplexo diante da sua ignorância e ingenuidade. Penalizado, em voz baixa, assim lhe falou:

 - Seu Bajoso, pelo amor de Deus, esqueça essa história, pois quem era para ser preso era o senhor!!! O senhor, com essa idade, mais de setenta anos, ainda não sabe que é crime fabricar dinheiro em casa?!!! Só quem pode fabricar dinheiro é a Casa da Moeda, com ordem do governo federal!!! O senhor foi induzido por um vigarista a comprar uma máquina de fazer dinheiro falso!!!

Volte para sua casa e não conte essa história a mais ninguém!!!

O velho voltou para casa triste, acabrunhado, e nunca mais teve saúde.



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