quarta-feira, 29 de outubro de 2014

COISAS DA VIDA

A CANA 

(Por Violante Pimentel) Pedro Elias era motorista de um órgão público estadual.  Gostava de beber, e uma vez por outra tomava umas carraspanas, chegando ao serviço embriagado. Já havia sido repreendido e até suspenso do trabalho. Entrou de férias e voltou outro homem. Dizia, a toda hora, que agora era evangélico e tinha deixado de beber. Afinal, tinha esposa e filhos para sustentar. A partir de então, esforçou-se para andar na linha. Realmente, não deu mais sinal de que continuasse bebendo.  Depois de alguns meses, passou a inspirar confiança novamente, como motorista de carro oficial. 

Violante Pimentel
Violante Pimentel é procuradora aposentada
 do Estado do Rio Grande do Norte
Num certo dia, o chefe imediato de Pedro Elias o escalou para levar o Secretário do órgão onde era lotado a João Pessoa, a serviço.  O Secretário não gostou quando soube quem seria o motorista que viajaria com ele, pois conhecia sua fama de pinguço. O chefe da oficina, entretanto, garantiu que ele havia deixado de beber, e agora era outro homem.

Passando por Mamanguape (PB), por volta de meio dia, o Secretário ordenou ao motorista que parasse em um restaurante, a fim de almoçarem. Gentilmente, facultou-lhe sentar-se à mesa com ele. Por timidez, o homem preferiu ficar mais afastado, em outra mesa, onde se sentiria mais à vontade. O Secretário pediu ao garçom o almoço e um refrigerante.

O motorista chamou o garçom e cochichou-lhe: “Rapaz, pelo amor de Deus, eu estou aqui doido pra tomar uma branquinha. Quero que você me sirva uma dose grande de cachaça, disfarçada numa xícara. Meu chefe, que está ali naquela mesa, não pode ver”.

O garçom anotou todos os pedidos, inclusive o do motorista, e do meio do salão os transmitiu ao colega que atendia no balcão.

Para surpresa do Secretário, soou-lhe aos ouvidos a voz estridente do garçom, lendo os pedidos anotados:

- Pra mesa 5,  uma coca cola e um filé com fritas!  Pra mesa 8, aquela ali,  o homem quer uma cana “disfalçada”, numa xícara!

O Secretário virou-se para a mesa onde estava Pedro Elias, encarou-o, e balançou a cabeça em sinal de desaprovação. O motorista, sentindo-se perdido, levantou-se nervoso e saiu protestando:
-- Eu mesmo não pedi isso não! Eu não quero é nada!

E saiu do restaurante, indo aguardar o Secretário no carro.  A viagem até João Pessoa prosseguiu em completo silêncio. O motorista, com medo de uma nova punição, ainda tentou explicar ao Secretário, sem êxito, que o garçom havia se enganado.

O Secretário, visivelmente irritado, permaneceu calado, demonstrando não acreditar em nenhuma daquelas palavras.


Quando a cana fala mais alto...



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