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Ricos mesmo nunca foram, mas já estiveram bem de vida. Compravam
quase tudo que tinham vontade de comprar: de tempos em tempos, trocavam carros,
móveis e eletrodomésticos; andavam bem vestidos; pagavam plano de saúde top de
linha; duas vezes ao ano, tiravam quinze dias para viajar. Nunca foram para o
exterior porque não falavam outra língua – e feio é que não iriam fazer, ainda
mais lá fora.
Os tempos, porém, mudaram. Ângela recebe aposentadoria mixuruca.
Ele, Antônio, perdeu o emprego. Há cinco anos, não encontra ocupação
fixa, com remuneração decente. Paga o INSS como autônomo. Espera estar
aposentado em dois anos, se o governo não mudar as regras atuais.
Naquele final de tarde, bateu em Antônio vontade forte de ir ao
supermercado e encher dois carrinhos com guloseimas, como nos bons tempos.
Ângela ponderou que era melhor ficarem. Mas aquiesceu. Foram. Pareciam duas
crianças. Riram muito, pegaram tudo aquilo que lhes enfeitiçava os olhos. E
encheram dois carrinhos com as compras. Retornaram para casa com quatro
pãezinhos e uma goiabada cascão.O que deu para pagar.
Ângela preparou a sopa, Antônio não quis jantar. Ângela foi dormir,
Antônio ficou na sacada olhando o nada, fumando e bebendo sem descontinuar, sem
dar palavra. No outro dia, ele não tinha hora para sair da cama. (OS - julho/2015, atualizado em março de 2019)
Tocante e verdadeiro como a própria realidade.
ResponderExcluirObrigado, Zulmira, pelo comentário. É um prazer tê-la por aqui. Abraço.
ExcluirVerdade ,o que mais tem.
ResponderExcluirDoeu.
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