(POR AUGUSTO MARZAGÃO) Dois meses antes de terminar o seu segundo mandato de prefeito de São Paulo, Jânio Quadros pediu ao jovem advogado Marcelo Martins de Oliveira para que me acompanhasse até o seu gabinete no Parque do Ibirapuera. Lá chegando, encontramos Jânio repreendendo alguns funcionários da prefeitura: "Vocês negligenciaram neste assunto. Não posso aceitar a decisão do juiz! Dou-lhes uma semana para resolverem essa pendência".
Marcelo
quis saber por que o prefeito estava tão aborrecido. "Vejam vocês",
explicou ele, "recebi há dias um telefonema do presidente do Tribunal de
Justiça do Estado, pedindo para retirar os camelôs que lotavam as escadarias
daquela Corte. Limpei-as. Agora me aparece uma tal associação de vendedores
ambulantes brandindo uma liminar concedida pelo mesmo juiz em mandado de
segurança, que permite aos camelôs retornarem ao lugar antigo, as escadarias do
Tribunal. Faz sentido isso?".
Durante
almoço dias depois, eu e o advogado Marcelo surpreendemos o prefeito radiante
de felicidade. Jânio explica o seu novo estado de espírito: "Lembram-se
daquele juiz que me aborreceu? Eu tinha descoberto onde ele mora e ao receber
um pleito do sindicato dos peixeiros para que designasse um ponto de venda a
céu aberto na cidade, imaginem só qual foi a minha escolha: a frente da casa do
magistrado. A ele só restou levantar a bandeira branca". (Folha de S. Paulo – 25/10/2002)
Augusto Marzagão, jornalista, autor do livro "Memorial do
Presente", ex-secretário particular de Jânio Quadros e José Sarney e
ex-secretário de Comunicação Institucional de Itamar Franco.
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