quarta-feira, 20 de março de 2019

ESTOU Á VENDA

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Aproveitem: estou em liquidação


Levei anos, décadas, mas descobri minha vocação: quero ser protestante. Que pastores não se animem. Sou meio desgarrado de igrejas, em especial das estridentes. Nunca fui chegado a ser membro de rebanho. Erro com minhas próprias pernas. Não me queixo das "graças" que obtive, muito embora não esteja convencido de meus merecimentos. Além do mais, a situação econômica não me permite pagar por "milagres" de procedência e efeitos duvidosos. Quero ganhar a vida protestando – de forma lucrativa. Afinal, como dizem, o mar não está para peixe. Tempo bicudo, o nosso.

O ramo de protestos se profissionalizou muito nos últimos tempos. Diria mesmo que, nesse quesito, superamos Estados Unidos e Europa. De uns tempos para cá, temos até protestos a favor do governo. Segundo dizem, estes são os de melhor remuneração.

Claro que há sempre o risco de o profissional do protesto tomar umas cacetadas dos policiais. Mas jamais tive a pretensão de ocupar a linha de frente, ter a cara estampada nos jornais e na televisão. Não sou candidato a nada. Quero fazer parte da turma do fundão. A paga é menor, sei, mas não preciso apanhar para sobreviver. Melhor dizendo: tenho, do ponto de vista financeiro, apanhado além do razoável.

A lista de vantagens de ser protestante profissional é grande, compensa os esqueletos do ofício. Com roupa, pouco se gasta. Até porque não pega bem ir aprumado num protesto. Tem mais: a onda agora é ir pelado. Também é muito bom ser livre, deixar de ser escravo das crenças. Que beleza poder ser a favor e contra isso ou aquilo na mesma semana.


Pagou, levou meu protesto. Cobro barato. (OS)


(De 24/10/2013 - atualizado em março de 2019)

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