segunda-feira, 4 de março de 2019

O MAR ENSINA

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Foto: Arquivo Google

- Ananias, eu sei que no bar do Carneiro, mas não só aqui, muita gente me toma por arrogante. O que fazer? Nada. Ora, cada um pense o que quiser. Não ligo. Mas posso lhe garantir que não sou arrogante. Tenho apenas paciência zero com a maioria das pessoas. Acho quase impossível manter conversa com elas por mais de vinte minutos, se tanto. O que as pessoas, em geral, têm a me dizer não me interessa. A recíproca é verdadeira. Para que manter a farsa? Que fique cada um no seu quadrado. Melhor assim. Ninguém é obrigado a ouvir minhas falações, mas eu também não sou obrigado a ouvir as falações alheias. Compreende?

- Perfeitamente. Sou obrigado a deduzir que tenho sorte: comigo – não sei o motivo – o senhor tem paciência de Jó. Há dias em que ficamos sentados à mesma mesa por duas, três horas...

- Sabe por quê?

- Não, Velho Marinheiro. Nem imagino.

- Porque nós, Ananias, permanecemos a maior parte do tempo em silêncio. Boas amizades são urdidas na quietude. Ser amigo não é bisbilhotar a vida do outro, querer que o outro lhe conte o que ele não quer contar. Há tempo para tudo: para discutir coisas sérias, para contar piadas, para assuntar besteiras, para, eventualmente, desabafar. Mas, para que seja, de fato, bem aproveitado, o tempo não abre mão de uma dose generosa de silêncio. Aprendi isso com o mar. (Atualizado em março de 2019)

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