CAMINHO DA ROÇA
Marinheiro de primeira viagem, ávido por mostrar serviço aos
eleitores, colegas de bancada e, especialmente, ao chefe do Executivo – ao dono
da caneta, portanto –, o deputado andava injuriado. Pressentia que estava fazendo papel
de tolo. Por que só ele ia para a tribuna defender as propostas polêmicas? Por
que só ele se expunha? Por que os líderes do governo e da bancada eram tão
ausentes? Enquanto ele – só ele, mais ninguém! – dava a cara para bater! Ora, cobras
criadas viviam em reuniões tratando de assuntos sigilosos. “Aí, tem” – dizia
ele a seus botões. E tinha. Tocado por generosos tragos de uísque, uma noite, resolveu
abrir o jogo com a amante:
-- Veja você: ia votar a favor daquele projeto – sabe qual, não sabe,
não? Ia votar de graça, estou convencido que ele é bom, tem alcance social. Mas soube que os deputados estão levando uma baita grana das empreiteiras para
aprová-lo. Agora, também quero minha parte. Fama de safado dói menos, quando se
está com muito dinheiro no bolso.
-- Gostei do que acabo de ouvir, meu bebê garanhão. Você está na trilha certa. Agarradinhos, vamos longe. (OS)
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