terça-feira, 30 de dezembro de 2014

COISAS DA VIDA

A INTIMAÇÃO

Violante Pimentel
Violante Pimentel é procuradora aposentada
 do Estado do Rio Grande do Norte

(Por Violante Pimentel) Joaquim era um antigo oficial de justiça de uma pequena cidade do interior do Rio Grande do Norte, e exercia o seu trabalho com satisfação.  Era muito espirituoso, conversador, e cheio de frases irônicas e inteligentes.  Gostava muito de ver a reação das pessoas intimadas ou citadas judicialmente, principalmente quando eram ricas e metidas a importantes. Era impressionante a sua fisionomia de júbilo, quando via a reação de revolta das pessoas intimadas judicialmente.  No seu dia-a-dia, era comum ouvir palavrões contra o Juiz, Promotor, Advogado, ou contra a própria Justiça. O trabalho que exercia, para ele, era um regozijo. Fazia o que gostava, e deixava transparecer que se divertia com a irritação dos outros.

Certa vez, levou uma intimação a um fazendeiro rico da cidade, para que comparecesse ao fórum no prazo marcado, para tratar de uma demanda trabalhista.  Como portador não merece pancada, Joaquim, levou a intimação ao fazendeiro, sabendo que iria ouvir muitos impropérios, pois o respeitado cidadão era um “cavalo batizado". Tratava-se de um homenzarrão de fazer medo, e sua voz estridente podia ser ouvida a um quarteirão de distância. 

 O homem se recusou a receber o mandado. No dia seguinte, Joaquim se dirigiu novamente à residência do fazendeiro, que não quis nem conversa com ele. O oficial de justiça disse, então, à sua filha que, no dia imediato, às 10 h, estaria ali para entregar a intimação. Seria o terceiro e último dia do prazo legal, para a entrega do referido mandado.

Na manhã seguinte, à hora marcada, estava Joaquim na porta da residência do fazendeiro. Dessa vez, quem o recebeu foi a sua esposa, uma senhora calma e educada, exatamente o oposto do marido. A mulher disse ao oficial de justiça que o esposo, em hipótese alguma, iria receber qualquer intimação, nem assinaria qualquer documento. Joaquim, então, insistiu com a mulher, dizendo-lhe que, de acordo com a lei, teria que registrar essa recusa, e que ela mesma teria que receber e assinar a contrafé do documento. Caso contrário, ele chamaria testemunhas para registrar o fato.

Dona Rosilda, muito nervosa, pediu licença para entrar e tentar convencer o marido a atender ao oficial de justiça. Mas o resultado foi pior… O fazendeiro apareceu na porta, indignado, esbravejando contra o Juiz, e contra o próprio oficial de justiça. Num assomo de extrema grosseria, arrebatou das mãos do serventuário da justiça a intimação, rasgando o documento em mil pedaços e,  enfurecido, falou:

- Olhe, seu safado, você diga ao Juiz que eu não assinei, nem assino coisa nenhuma, e que taqui ó!!! Taqui pra ele, ó!!!

E estirou o seu enorme dedo médio da mão direita, na cara do oficial de justiça, num gesto de conhecida irreverência.

Joaquim empalideceu, com medo de que o homem o agredisse fisicamente, mas logo se refez e o seu senso de humor falou mais alto. Encarou o temido brutamontes, olhou bem nos seus olhos e respondeu,  também estirando o dedo médio da mão direita para ele:

- TAQUI QUE EU DIGO, Ó!!! TAQUI Ó!!!

E mais que depressa, quase correndo, o oficial de justiça voltou ao Cartório, para as providências cabíveis.




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