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UM PAÍS SEM GOVERNO
Se não houvesse governo, não haveria bancos estatais,
como o BNDES. Sem o BNDES, Joesley Batista teria
que buscar outras fontes de financiamento para a JBS...
Por Ricardo Amorim
IstoE Digital – 02/06/2017
Não, não me refiro à atual situação do Brasil, onde a corrupção
em escalas inimagináveis, envolvendo o próprio presidente Temer, acabou com as
condições de governabilidade e paralisou o Congresso e o País. Aliás,
exatamente como já havia acontecido com sua antecessora, Dilma Rousseff.
Trata-se de um tema ainda mais importante para que o combate à
corrupção seja bem sucedido e para que um país possa se tornar mais rico e mais
justo: uma brutal mudança de mentalidade na relação da sociedade brasileira com
o Estado.
Imagine que o Brasil não tivesse governo. Se não houvesse
governo, não haveria orçamentos superfaturados de obras públicas. Marcelo
Odebrecht e outros empreiteiros não teriam por que nem como subornar políticos
e agentes públicos, nem esses teriam como achacá-los.
Se não houvesse governo, não haveria bancos estatais, como o
BNDES. Sem o BNDES, Joesley Batista teria que buscar outras fontes de
financiamento para a JBS, e não teria razão para dar mais de R$ 1 bilhão a
1.829 políticos, incluindo o presidente Temer e os ex-presidentes Lula e Dilma.
Sem governo, a Petrobras não seria estatal. As decisões da
empresa não teriam motivações políticas, seriam motivadas pela busca de
resultados para a empresa e seus acionistas. Dezenas de bilhões de reais
desviados por corrupção não teriam ido para o ralo.
Se não há governo, políticos não teriam como comprar o apoio de
setores da sociedade com programas de benefícios a grupos específicos como
Bolsa-Família, isenções fiscais, linhas de crédito subsidiado e outros,
devolvendo a alguns uma boa parcela do dinheiro que tomaram de todos nós
através de impostos.
OK, você deve estar se perguntando, e como garantir segurança,
educação básica e saúde de qualidade a todos, além de combater a miséria, sem
governo? O ponto é exatamente este. Para ter foco e dinheiro para isso, para
não corromper e ser corrompido, para não sufocar a produção e o emprego no
Brasil com impostos extorsivos e para executar bons serviços públicos, o
governo não pode e não deve fazer todo o resto.
A essência da corrupção brasileira está na promiscuidade entre o
Estado e a iniciativa privada. Quanto maior o Estado, maior a promiscuidade. Um
Estado agigantado que distribui “favores” é fonte constante de corrupção.
Quanto menos o Estado se envolver diretamente na economia – apenas regulando
seu funcionamento – menos corrupção e mais riqueza haverá. Para ser máximo em
eficiência, promoção de desenvolvimento e imune à corrupção, o Estado tem de
ser mínimo em tamanho.
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