1991, domingo. O Tribunal de Contas do Município
acabara de rejeitar as contas de Erundina, prefeita de São Paulo. Mais tocado
que mosca varejeira, Lula, sempre ele, subiu no palanque e fez seu repto:
-- Quero ver se esses vereadores vagabundos vão ter
coragem de aprovar uma coisa dessas!
À Mesa Diretora da Câmara, claro, não restava
alternativa: tinha que porque tinha que emitir uma nota dura contra a falação
de Lula.
No dia seguinte, o presidente chamou o assessor de imprensa às
pressas:
-- Faça uma nota na seguinte linha etc. e tal. Com
rapidez. Os vereadores estão com pressa e todos precisam assinar.
Cinco minutos depois, suado até não mais poder, o
assessor retornou à sala, entregou a nota ao presidente, que a leu em voz alta.
Foi aprovada. O único que votou contra foi um vereador conhecido pelo gênio
medonho e a valentia de quem, em parceria com o irmão, assombrava o futebol de
várzea.
Foi voto vencido.
Texto escrito em papel timbrado, assinado, o velho
vereador, um dos mais antigos, chamou o pobre assessor, ainda em bicas:
-- Parabéns. Seu texto estava uma beleza. Quase um
poema. Só faltaram as rimas. Está tão bonito que a gente assina, sem saber se a
favor ou contra. Você nasceu tucano. (julho/2013)
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