quarta-feira, 4 de setembro de 2013

TUCANO DE NASCENÇA. PODE?

1991, domingo. O Tribunal de Contas do Município acabara de rejeitar as contas de Erundina, prefeita de São Paulo. Mais tocado que mosca varejeira, Lula, sempre ele, subiu no palanque e fez seu repto:

-- Quero ver se esses vereadores vagabundos vão ter coragem de aprovar uma coisa dessas!

À Mesa Diretora da Câmara, claro, não restava alternativa: tinha que porque tinha que emitir uma nota dura contra a falação de Lula.

No dia seguinte, o presidente chamou o assessor de imprensa às pressas:

-- Faça uma nota na seguinte linha etc. e tal. Com rapidez. Os vereadores estão com pressa e todos precisam assinar.

Cinco minutos depois, suado até não mais poder, o assessor retornou à sala, entregou a nota ao presidente, que a leu em voz alta. Foi aprovada. O único que votou contra foi um vereador conhecido pelo gênio medonho e a valentia de quem, em parceria com o irmão, assombrava o futebol de várzea.

Foi voto vencido.

Texto escrito em papel timbrado, assinado, o velho vereador, um dos mais antigos, chamou o pobre assessor, ainda em bicas:

-- Parabéns. Seu texto estava uma beleza. Quase um poema. Só faltaram as rimas. Está tão bonito que a gente assina, sem saber se a favor ou contra. Você nasceu tucano. (julho/2013)


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