quarta-feira, 4 de setembro de 2013

CONTRA A ÉTICA NA POLÍTICA


No país do jeitinho, todo mundo se diz indignado com a roubalheira – dos outros. Em especial com aquela praticada por políticos. Ninguém olha para o próprio rabo. Nosso pecado é sempre venial; o dos outros, capital. O que acaba nos dando o “direito” de transgredir. Afinal, se todo mundo faz coisa pior...

Somos tão cínicos que chegamos, anos atrás, a crucificar Gérson porque, numa propaganda de cigarros ordinários (Vila Rica, se a memória não me trai), ele dizia que o brasileiro gosta de levar vantagem em tudo. Como se fosse mentira. Se não levamos vantagem em tudo é porque há outros bem mais espertos que nós. Nosso sonho nada secreto é ser mais malandro que o vizinho. Um país de vivos, engolido pelos mais vivos. A malandragem é um ramo como outro qualquer: não tolera amadorismo.

Por aqui, achamos normal subornar o guarda; fazer um “gato” para ter acesso aos canais pagos “de grátis”; sonegar impostos, porque, afinal, o governo nada faz, além de roubar; dar caixinha para o garçom da festa de aniversário, a fim de comer mais croquetes e tomar mais cerveja que os outros convidados; fingir que o valor do troco extra – e indevido – que nos dão na padaria está certinho da silva; colocar no bolso, “sem querer”, o isqueiro importado do colega de bar, ou de copo, de sina e de cruz, como diria Chico Buarque. . 

Todas as categorias profissionais têm seus códigos de ética. E daí? Qual sua serventia? A ética do jornalista, por exemplo, difere em quê da ética do advogado? Uns têm mais direitos que os outros? O que um político não pode fazer e eu posso? Por que ética na política? Fora dela não precisa?

A regra é simples e já nos foi dada há séculos: é não fazer ao outro o que não queremos que o outro nos faça. (março de 2013)


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