No país do jeitinho, todo mundo se diz indignado com
a roubalheira – dos outros. Em especial com aquela praticada por políticos.
Ninguém olha para o próprio rabo. Nosso pecado é sempre venial; o dos outros,
capital. O que acaba nos dando o “direito” de transgredir. Afinal, se todo
mundo faz coisa pior...
Somos tão cínicos que chegamos, anos atrás, a
crucificar Gérson porque, numa propaganda de cigarros ordinários (Vila Rica, se
a memória não me trai), ele dizia que o brasileiro gosta de levar vantagem em
tudo. Como se fosse mentira. Se não levamos vantagem em tudo é porque há outros
bem mais espertos que nós. Nosso sonho nada secreto é ser mais malandro que o
vizinho. Um país de vivos, engolido pelos mais vivos. A malandragem é um ramo
como outro qualquer: não tolera amadorismo.
Por aqui, achamos normal subornar o guarda; fazer um
“gato” para ter acesso aos canais pagos “de grátis”; sonegar impostos, porque,
afinal, o governo nada faz, além de roubar; dar caixinha para o garçom da festa
de aniversário, a fim de comer mais croquetes e tomar mais cerveja que os
outros convidados; fingir que o valor do troco extra – e indevido – que nos dão
na padaria está certinho da silva; colocar no bolso, “sem querer”, o isqueiro
importado do colega de bar, ou de copo, de sina e de cruz, como diria Chico
Buarque. .
Todas as categorias profissionais têm seus códigos
de ética. E daí? Qual sua serventia? A ética do jornalista, por exemplo, difere
em quê da ética do advogado? Uns têm mais direitos que os outros? O que um
político não pode fazer e eu posso? Por que ética na política? Fora dela não
precisa?
A regra é simples e já nos foi dada há séculos: é
não fazer ao outro o que não queremos que o outro nos faça. (março de 2013)
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