À mulher de César, como se sabe, não bastava ser
honesta. A coitada tinha que convencer os outros de sua probidade. Ou seja:
tinha que parecer honesta também. A propósito, “parecer” costuma ter mais valor
que “ser”. Mas esta é outra conversa.
Muita gente importante nunca deu bola alguma para
essa coisa de ser correto. Mas, de olho nos votos e na lei, jamais descuidou da
boa imagem. É por essa razão que, de tempos em tempos, nos chocamos quando um
gaiato famoso é pego em flagrante: “Nossa, ele parecia tão honesto, era tão
implacável com os corruptos.” Demóstenes Torres está aí, para confirmar o
descompasso entre o “ser” e o “parecer”.
Mas, como vivemos sob o império da desfaçatez, há
muita gente que já não faz nenhuma questão de esconder seus reais interesses. O
sujeito faz cara de safado, fala como safado e age como safado. Ora, um sujeito
assim só pode ser safado. Que vantagem alguém leva em se apresentar como
pilantra sem que seja pilantra? A não ser que queira impressionar seus
parceiros de cela, uma coisa dessas não faz sentido.
Esta gente age como uma hipotética mulher de César,
que caiu na vida e faz propaganda de seu desvio. Mas só trata do preço dos
prazeres que proporciona entre quatro paredes.
(2012)
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