No fundo, todos ali sabiam da inutilidade de pedir
aumento salarial para os donos da revista. Pra variar, o país ia mal das pernas
– e o setor editorial, pra não variar, pior ainda. Foi quando o
ultraesquerdista – era assim que ele se autodefinia –, sem encarar X, pediu a
palavra:
-- Se não dá pra obter aumento, acho justo que X
tenha o salário reduzido. Afinal de contas, ele fica menos tempo na redação do
que nós.
Inútil argumentar que X não fora contratado por
hora, mas para produzir tanto quanto os demais. Não tinha era tempo de passar a
maior parte do dia jogando conversa fora, como a maioria. Inútil exibir
levantamento mostrando que, naquele determinado período, X produzira mais que
todos. Este último argumento, aliás, só piorava as coisas.
Para o “justo”, tal fato comprovava que X era um dos
grandes sabotadores da ascensão da classe operária ao paraíso. Muito embora ali
ninguém fosse operário. (agosto/2013)