quarta-feira, 4 de setembro de 2013

A ÉTICA DO CRUZ-CREDO (CENA III)

No fundo, todos ali sabiam da inutilidade de pedir aumento salarial para os donos da revista. Pra variar, o país ia mal das pernas – e o setor editorial, pra não variar, pior ainda. Foi quando o ultraesquerdista – era assim que ele se autodefinia –, sem encarar X, pediu a palavra:

-- Se não dá pra obter aumento, acho justo que X tenha o salário reduzido. Afinal de contas, ele fica menos tempo na redação do que nós.

Inútil argumentar que X não fora contratado por hora, mas para produzir tanto quanto os demais. Não tinha era tempo de passar a maior parte do dia jogando conversa fora, como a maioria. Inútil exibir levantamento mostrando que, naquele determinado período, X produzira mais que todos. Este último argumento, aliás, só piorava as coisas.

Para o “justo”, tal fato comprovava que X era um dos grandes sabotadores da ascensão da classe operária ao paraíso. Muito embora ali ninguém fosse operário. (agosto/2013)