QUE TAL, EIKE BATISTA? |
“ACORDA,
ESTE É O BRASIL
QUE
VOCÊ AJUDOU A CONSTRUIR”
Por
Maria Helena Rubinato
Via
Blog do Noblat
28/07/2017
Quem forjou a frase do título não fui
eu, mas dona Biloca, a sábia amiga e conselheira do colunista Roberto Pompeu de
Toledo, segundo artigo publicado por ele na VEJA da semana passada, edição
2540.
É um país curioso, original,
estranho... Dizem que é um país pobre, por isso sem saneamento básico para
todos, sem boas escolas, sem hospitais, com poucas estradas diante de seu
imenso território.
Tem uma moeda que foi a salvação da
lavoura quando nasceu, em 1º de julho de 1994. Moeda forte, que foi recebida
com grande entusiasmo. Moeda que enche nossos cofres e os bolsos dos amigos do
rei. A unidade, o real, já não compra o mesmo que comprava em 1994, claro que
não. Na verdade, nem seu milhar. Ninguém mais fala em um mil reais. Agora só
ouvimos falar em milhão, bilhão e, às vezes, trilhão...
De onde saem os bilhões mencionados
nos relatos sobre grandes propinas? Como circulam pelos diversos bolsos por
onde passam? É tudo em malas, como com o
ex-deputado Loures, nenhum milhão passa pelos bancos? Por falar em bancos, cadê
o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF), órgão administrativo
brasileiro que foi criado pela lei nº 9.613, de 3 de março de 1998, durante as
reformas econômicas feitas pelo governo de Fernando Henrique Cardoso)?
Tenho a impressão que a grande
maioria dos brasileiros nem compreende as cifras das quais ouve falar. São
cifras tão distantes de nossa realidade que nem chocam: entram pelos nossos
ouvidos como se fossem os dizeres das bruxas nas histórias de fada. São
assustadoras, mas não devemos nelas acreditar.
Só que não, como é moda dizer hoje em
dia. Não são passagens de histórias de fadas, não. É a realidade. O que vem
provar que o Brasil é um país muito, muito rico. Com um detalhe macabro: quem
enche as burras do Governo é o cidadão, mas ele não tem direito ao uso e ao
usufruto de sua moeda. Isso é só para os eleitos, os grandes da Política ou do
Empresariado. E não adianta chiar. Leia ou ouça calado e espere que o Carnaval
vem aí, para aliviar nossas dores.
Mas é só nos cifrões que o Brasil é
curioso? Bem, tudo começa e acaba com moedas, sem dinheiro as narrativas
morreriam, sobretudo as narrativas que levam à intervenção da Justiça.
MARIA HELENA RUBINATO |
Justiça amável, generosa, às vezes
até leniente. Exemplos: a madrasta que ajudou o marido a matar a filha de cinco
anos vai poder cumprir o resto de sua pena no semiaberto. Com um detalhe
inacreditável: a expectativa é que ela deixe a prisão pela primeira vez em outubro,
no Dia da Criança! Outra amabilidade da
Justiça é a prisão também no semiaberto daquela mocinha que tramou com o
namorado e o irmão do namorado a morte violenta de seus pais. Essa já deixou a
carceragem num Dia dos Pais, o que tem toda a lógica!
Tem mais? Os irmãos Batista, donos da
JBS, cuja delação traz informações impressionantes sobre o propinoduto
brasileiro, por ter revelado malfeitos escabrosos, de parte a parte, i.e.,
deles com as autoridades, das autoridades com eles, receberam um agradecimento
da Justiça: eles não sofreram nem sofrerão nenhuma pena. Continuam livres,
leves, e soltos. E ricos.
E os felizardos que ficaram um
bocadinho na prisão para, em seguida, como usuários de uma elegante
tornozeleira, partirem para a prisão semiaberta? São esses que me levaram a mencionar a
simpática e inteligente dona Biloca, que teve uma ideia iluminada. Ela sugere
que a prisão domiciliar não seja cumprida nas mansões, fazendas ou condomínios
luxuosos dos ‘tornozelados’. Para que a Justiça fosse justa, segundo dona
Biloca, o certo seria que os beneficiados com a prisão domiciliar fossem
cumpri-la numa unidade do Minha Casa, Minha Vida, comprada e mobiliada pelos
próprios.
A simpática e inteligente dona
Biloca, ao lhe perguntarem se o ex-detido não podia ir viver, por exemplo, no
Complexo do Alemão, primeiro recusou a sugestão em respeito aos moradores do
Alemão. Mas depois observou que talvez o tiroteio nas madrugadas ajudasse na
recuperação desses tipos: “Acorda! Este é o Brasil que você ajudou a construir”,
diriam os tiros.
Dona Biloca, se dependesse de mim, a
senhora seria a Ministra da Justiça do Brasil!
Maria
Helena Rubinato Rodrigues de Sousa, professora e tradutora, escreve
semanalmente para o Blog do Noblat, desde agosto de 2005
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