RICARDO CAMAROTA/FOLHAPRESS |
EXISTEM DOIS
TIPOS DE POPULISTA.
UM DELES
PODERÁ SER O PRÓXIMO PRESIDENTE
A
esquerda está desorientada; depois de comer na mão
de
nosso ex-operário sindicalista por anos, encontra alguma
dificuldade
em achar seu novo "pai do povo"
Por
Luiz Felipe Pondé
UOL –
10/07/2017
Como serão as eleições de 2018? Temo que 18
seja uma festa do populismo. Os sinais estão no ar: horror à política
profissional, apelos ao Poder Judiciário como Batman do Brasil, sonhos de
pureza, ressentimento por toda parte. A única forma de garantia contra o vírus
do populismo é não esperar muita coisa da política. Na política, menos é mais.
Como diz o filósofo inglês Michael Oakeshott
(1901-1990), quase desconhecido aqui, um líder de governo deve ser alguém muito
modesto e quase sem "visão de mundo". Quanto menos acreditar em si
mesmo, melhor. Só assim a prudência (maior de todas as virtudes políticas)
brotará na alma de alguém fadado à vaidade - como todo mundo que detém poder.
Existem dois tipos básicos de populistas. Um
dos dois poderá ser nosso próximo presidente. Podem existir outros tipos, mas
esses tendem a deixar a maior parte do eleitorado com tesão. Entretanto, é
importante lembrar que todo populista chega ao poder navegando no
ressentimento, que é o elemento essencial de todo eleitor que tem tesão por
populistas.
O primeiro é o mais conhecido: o populista
de extrema direita. O ressentimento nele é evidente, porque ele é o mais comum
dos dois tipos de populistas. Sempre movido pelo ódio por um grupo social,
ainda que disfarçado. Normalmente, esses grupos são identificados com alguma
forma de "degeneração". Do ponto de vista da imagem, esse tipo tende
a ter o cabelo cortado de forma careta.
No contexto brasileiro, a imagem mais
clássica é de alguém que admira a "retidão" militar. Tem uma certa
nostalgia da ditadura e é visto como malvado, por exemplo, por artistas,
jornalistas e intelectuais. Aqueles entre os artistas, jornalistas e
intelectuais que tiverem mais repertório o dirão anti-humanista.
Um novo estereótipo da sua imagem, no
contexto mais recente, é o de um evangélico contra gays. Um fanático religioso
com ares de resposta ao "horror esquerdista".
Afora jovens raivosos e com dificuldade de
sociabilidade, esse tipo tende a atrair o mercado clássico dos eleitores
populistas de extrema direita: gente com mais idade, mais fracassos acumulados
na vida profissional e afetiva, e com mais experiência no impasse que é a vida,
em grande parte dos casos.
No caso de homens, tende a atrair aqueles
que pegam menos mulheres.
PONDÉ/FOTO:ARQUIVO GOOGLE |
O outro tipo de populista é menos óbvio, mas
nem por isso menos perigoso. Um representante "chique" dessa linha é
o novo líder do trabalhismo inglês, Jeremy Corbyn, que ganhou o "voto
jovem" nas últimas eleições britânicas.
Prometendo dar tudo de graça, esse novo
ícone do populismo de esquerda mundial quase ganhou as eleições. Sorte dele,
porque ia fracassar como todo mundo que promete tudo para o povo.
Os jovens são um capítulo à parte no que se
refere a esse tipo de populista, o populista do bem, o de esquerda. Jovens têm
vocação natural ao populismo, por acreditarem que o mundo é simples como uma
teoria qualquer. Todo movimento político estudantil tende ao populismo; basta
assistir a uma de suas assembleias.
No contexto brasileiro, esse populista
deverá vir dos grupos considerados "vulneráveis" para ser ideal, como
nosso ex-operário sindicalista. Virá carregado pelos setores
"progressistas" da sociedade e abraçado por artistas (que,
normalmente, entendem de política tanto quanto um bebê entende de física
quântica), intelectuais e grupos dos "sem alguma coisa". Ele vai
prometer tudo o que o PT prometeu e não cumpriu. A começar pela vingança contra
a elite.
A esquerda está à caça de seu populista.
Alguns candidatos a esse posto já aparecem por aí. Não está fácil. A extrema
direita já tem o seu. Ninguém sabe se ele resiste ao mundo fora das redes
sociais, mas já está, de alguma forma, mais à frente em sua campanha populista.
A esquerda está desorientada; depois de
comer na mão de nosso ex-operário sindicalista por anos, encontra alguma
dificuldade em achar seu novo "pai do povo".
Dois mil e dezoito será populista, como o 18
de Brumário foi. Você não sabe o que foi o 18 de Brumário? Olhe no Google.
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Luiz Felipe Pondé é filósofo, escritor e
ensaísta
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