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CLUBE DAS
MÁFIAS (FAMIGLIAS)
SEMPRE
GOVERNOU O BRASIL
Os
grupos “mafiosos” que nos governam fazem uso da violência,
porém,
de forma esporádica, não sistêmica.
Sistêmica
é a falta de escrúpulos
Por
Luiz Flávio Gomes
10/07/2017
O Brasil sempre foi governado (salvo fugazes
momentos históricos) pelas “máfias” da Colônia, do Império, da Câmara, do
Senado, do baixo-clero, do alto-clero, do BNDES, da Caixa Econômica, da
esquerda, da direita, do PT, do PMDB, do PSDB, do DEM, das licitações, da
compra de medidas provisórias etc.). Se não dermos os nomes certos para as coisas,
nunca as entenderemos.
Das dez principais características das
máfias tradicionais (Cosa Nostra, ‘Ndrangueta, Camorra etc.), nove estão
presentes no crime organizado político-empresarial-financeiro que sempre
governou o Brasil. São elas (ver A. Cavadi, La Máfia):
1ª) estar no
exercício do poder (na maior dimensão possível);
2ª) escopo de
enriquecimento (para aumento da fortuna pessoal ou conquista ou preservação do
poder);
3ª) apoderamento
(captura) do Estado (não se trata de poder paralelo; é o poder do próprio
Estado que é sequestrado);
4ª) infiltração em
suas instituições (políticas, econômicas, jurídicas e sociais, em busca da
riqueza e da impunidade, como a do TSE, por exemplo);
5ª) clientelismo
(troca de favores, proteção aos amigos, parentes e correligionários).
Mais:
6ª) manipulação do
jogo eleitoral (apropriando-se da democracia, onde vigora este regime);
7ª) domínio da
política pelo poder do dinheiro (abrindo-se caminho para um tipo de capitalismo
selvagem, sem concorrência);
8ª) “aparato de
justificação” (busca de apoio e consenso social, para a preservação das
desigualdades – Piketti – e da cultura da corrupção: os mafiosos são temidos,
mas querem mesmo ser “respeitados”, “admirados”);
9ª) uso intenso da
intimidação e das ameaças para dominar certo território e suas instituições.
Luiz Flávio, na foto de Marcos Oliveira/ Agência Senado |
Tudo isso faz parte do dia-a-dia do clube
das máfias (agora revelado em detalhes pela Lava Jato) que governam e
administram o Brasil. Esses delinquentes são do tipo proto-mafioso (quase
totalmente mafioso), porque lhes falta para se igualarem aos clássicos grupos
mafiosos a 10ª característica, que é
a seguinte: uso sistêmico da violência (da via sanguinária) friamente
“calculada”, “programada” para alcançar seus objetivos.
Os grupos “mafiosos” que nos governam fazem
uso da violência, porém, de forma esporádica, não sistêmica. Sistêmica é a
falta de escrúpulos. Com violência sistêmica teríamos pouquíssimas delações no
Brasil (levando-se os delatores para outros países, para não serem
assassinados).
Os “degenerados” e inescrupulosos que nos
governam, que não passam de 0,01% da população, (ainda) não são 100% mafiosos,
em razão da ausência da 10ª
característica assinalada.
Nas mãos desses delinquentes proto-mafiosos
e perversos o Brasil sempre esteve. Nossa República é governada por esses
bandoleiros, que contam com a proteção das instituições de fiscalização (como o
Judiciário).
E assim será o Brasil, enquanto a população
(dormida) der apoio para esse tipo de bandidagem
político-empresarial-financeira. Se você anda desanimado com tudo isso,
participe dia 30/7, 10h, do nosso ato cívico (Paulista com Rocha Azevedo).
Temos que recuperar nossa esperança de um Brasil melhor.
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Luiz Flávio Gomes é doutor em Direito Penal
pela Faculdade de Direito da Universidade Complutense de Madri (2001) e mestre
em Direito Penal pela Faculdade de Direito da USP (1989). Atuou como Promotor
de Justiça em São Paulo, de 1980 a 1983; Juiz de Direito, de 1983 a 1998; e
Advogado, de 1999 a 2001. É criador do Movimento Quero um Brasil Ético. Jurista e professor em vários cursos de
pós-graduação nacionais e internacionais, é autor de mais de 57 livros da área
jurídica.
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