Não pude conviver com meus
avôs, infelizmente O paterno morreu cedo, de câncer, em Santa Catarina. Meu pai
tinha 19 anos – se não me falha a memória, essa bandida claudicante. Com o avô
materno, tive pouca intimidade, quase nada. Dele trago a lembrança do velório
(em casa, claro) em dia (ou véspera) de eleições.
(“Varre, varre, vassourinha...”
Folhetos. Carros de som. Meu avô morto. Eu querendo balas de goma. Meu pai,
sempre pronto, tentando me convencer que não se chupa bala de goma em velórios.)
Do avô Gabriel (pai do
pai), eu só ouvi elogios uma vida inteira: trabalhador, honesto etc. e tal. Era
quase santo, segundo versões altamente suspeitas. Do avô João, “vô careca” (pai
da mãe), não posso dizer o mesmo. Era trabalhador, honesto, etc, e tal. Mas gostava
de vinho, gostava de vinho além da conta. Criava problemas.
Viúvo, pai de dois
filhos, Orlando e Tonico, o “vô careca” se casou de novo. E teve mais duas
filhas: Neide (minha mãe) e Laura. Os quatro filhos, claro, deveriam ter os mesmos
sobrenomes: Minas Silva. Mas, por conta do vinho abundante, o “vô careca”
resolveu inovar em cima de tia Laura: incluiu em seu sobrenome um Manzanares.
Até hoje ninguém sabe exatamente o motivo. Embora não haja dúvidas da
influência das uvas fermentadas sobre aquela opção.
Em defesa do “vô careca”
e do vinho ordinário que ele sorvia em doses industriais, um registro, ou
melhor, uma indagação: o que teria levado meu avô Gabriel, tão sóbrio, a
permitir que minha avó desse a seu filho, meu velho e generoso pai, o nome que
lhe deu – ODELORME?
Moral da história:
bebida faz estrago, sim, mas não pode ser acusada de todos os desatinos da
rapaziada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário