A LEI DA PALMADA
Adicionar legenda |
Diz o dito popular que de boas intenções o inferno anda cheio. E se a
voz do povo é a voz de Deus, Ele, o Todo Poderoso, mais do que ninguém, deve
saber que isso é verdade verdadeira.
Além do mais, até que o ponto o Estado deve interferir na relação familiar
e na educação dos filhos pelos pais? A chamada Lei da Palmada, que oficialmente
se chamará Lei Menino Bernardo, em homenagem ao neto do senador Renan
Calheiros, presidente do Congresso Brasileiro, que acompanhou a votação da lei
no colo da apresentadora Xuxa Meneghel, foi aprovada pelo Senado.
Ninguém de bom senso vai concordar de que a violência física é uma boa
educadora. Se assim o fosse, a Febem já teria formado verdadeiros cidadãos, em
vez de aprofundar os seus internos no caminho do crime e da exclusão social. E,
se entre o nosso aparato legislativo, já temos o Estatuto da Criança e do
Adolescente, para que se criar uma lei ainda mais restrita e pontual?
Por si só, a lei já é polêmica. Torna-se ainda mais discutível por
incluir no rol dos seus possíveis atingidos os médicos, professores e agentes
públicos que tomarem conhecimentos das violências praticadas pelos pais contra
os filhos e não as denunciar às autoridades competentes. Estes poderão ser
punidos com multas que atingem até o valor de 20 salários mínimos (mais de 15
mil reais). Os pais contraventores, entre outras coisas, deverão ser
encaminhados para programas especiais de proteção à família e a cursos de
orientação, além de acompanhamento psicológico ou psiquiátrico. A eles, não
caberá nenhuma punição pecuniária.
Se, como se dizia antigamente, a família é a célula mater da sociedade,
a violência exercitada no seu interior reflete apenas a violência reinante no
ambiente social em que vivemos. E para esse mal, já existe o remédio legal
adequado, muito embora ele não atinja e não modifique as suas possíveis
origens. Para se modificar a relação familiar, seria necessário modificar-se a
relação social, educar o homem para vida comunitária e para o respeito ao seu
semelhante. E isso, efetivamente, não combina com as pretensões individualistas
atuais, que nos educa para a eficiência na esperteza e na ganância do trato com
o outro.
Aonde todo esse aparato repressivo e de intervenção do Estado na relação
social e familiar vai nos levar, eu não sei. Mas, com alguma certeza, não será
ao equilíbrio e a uma condição de evolução humana.
Quanto mais dura e lei, maior a necessidade da burla e da criação de
mecanismos enganatórios. Numa sociedade onde se reflita a satisfação das
necessidades sociais e a satisfação das necessidades pessoais do cidadão, cada
vez menos será necessária a intervenção regulatória estatal.
Por isso, como dizia aquele antigo comercial televisivo, dura lex sed
lex, no cabelo só gumex!
Recife, junho 2014
--
O
GATO DA SÉ
Alto
da Sé, Olinda, junho 2014
Fotografia
de Clóvis Campêlo
|
Muito bom e lúcido, Clóvis. Abraço, Herculano
ResponderExcluirExcelente meu amigo!"Aonde todo esse aparato repressivo e de intervenção do Estado na relação social e familiar vai nos levar, eu não sei. Mas, com alguma certeza, não será ao equilíbrio e a uma condição de evolução humana.".... concordo plenamente/beijo
ResponderExcluir